sábado, dezembro 30, 2006
sexta-feira, dezembro 29, 2006
Algum Zapping em Dezembro
Não tendo conhecimentos para sequer suspeitar da falência de alguns dos conceitos apresentados, é curioso pensar que demonstra através do entretenimento o que é esse papão da matemática aplicada, de que muitas vezes ouvimos falar, mas que nós, meros mortais, ou meros humanistas, não conseguimos perceber muito bem.
O Impressionista, H. Kunzru
- Todo o mundo existe no passado.
- Isto devia ser tudo. Porém, pequenos milagres são entretecidos no desenho de todos os grandes acontecimentos.
- Talvez, quando se sente a falta de uma coisa o suficiente, seja possível forçá-la à existência.
- Uma pessoa é aquilo que sente que é. Ou, se não, deve sentir-se aquilo que é. Mas se uma pessoa for uma coisa que não sabe que é, quais são os sinais? Qual é a sensação de não ser quem se pensa que é?
- A tarde torna-se fim da tarde,
- O fim da tarde em noite.
- Há perguntas que é melhor não fazer. Há outras, quando feitas, que é melhor ficarem sem resposta.
… o poder de se furtar à vista é simplesmente uma forma mais profunda de androgenia.
… uma pessoa que se conhece formalmente não revela mais do que o papel que desempenha.
- … a diferença na dimensão do cérebro correspondem ao grau civilizacional e à capacidade de pensamento abstracto em todo o mundo.
- … começou a sentir-se deslumbrada com a plenitude do mundo, com a plenitude das coisas que não compreendia.
- O secretismo sugere profundidade e é esta sugestão que excita a fantasia das pessoas quando o vêem.
- A convicção não passa de uma sensação banal no estômago.
- Anglicidade é mesmice e o conforto da repetição.
- A inacção alimenta todo o género de males. É quando temos tempo para meditar que ficamos mais vulneráveis.
- Nem dentro, nem fora, nem participante, nem espectador indiferente, torna-se um deus menor do registo, observando as acções dos outros com concentração desapaixonada, marcando-os como pontos ou pequenas figuras no seu livro de quadrícula rectangular.
- Apesar da universidade ser geralmente entendida como uma instituição dedicada à excelência académica, é, na realidade, uma máquina de formação de carácter. O carácter não é inteligência.
- Custa-lhe acreditar, mas se a vida lhe ensinou uma coisa, foi que a fé é facultativa.
- Nós somos pessoas do dia a seguir.
quarta-feira, dezembro 27, 2006
Conseguirá...
Conseguirá este vazio branco contrapor o vazio em negro da minha mente?
Dicionário
Bragal - de braga, s. m., a roupa branca de uma casa; pano de linho grosso de que se faziam as bragas; enxoval; medida de 7 ou 8 varas usada como unidade monetária em certas transacções.
Hierofante - do Lat. hierophante < do gr. hierophántes, o que explica os mistérios aos neófitos, s. m., sacerdote que presidia aos mistérios de Elêusis, na Grécia; em Roma, pontífice magno; fig., indivíduo que se inculca sabedor de ciências ou de mistérios.
Mentraste - do Lat. ment(h)astru, s. m., Bot., planta sinantérea medicinal; hortelã silvestre.
A Morte de Um Apicultor, L. Gustafsson
- As doenças dão-lhes uma identidade. Isto é ainda mais verdadeiro para alguns dos mais velhos e humildes. A doença dá origem a um interesse pelas suas pessoas que nunca lhes for a dispensado quando tinham saúde.
- Talvez sejam sempre as nossas ideias que amamos.
- Não precisamos conviver com a realidade, podemos tranquilamente voltar a viver com a nossa ideia.
- Qual a distância máxima a que podemos amar uma pessoa? Resposta: menos de um milímetro. E sem nome.
- Parece não haver nada de que o subconsciente tenha tanto medo como a sensação de ser ninguém. E, servidor prestável, comecei a fabricar-me uma biografia!
- As pessoas que virão a significar alguma coisa para nós, encontramo-las não uma, mas pelo menos vinte vezes, antes de levarmos a sério o aviso.
- Eu tinha uma necessidade extraordinária de ser visto, naquele tempo. Se conseguimos seduzir alguém, então também conseguimos ser vistos.
- Sempre suspeitei que todas as soluções se encontravam algures entre a minha vida e outra.
- Desde que comecei a ter dores a sério, acontece uma coisa muito curiosa: são outras idades, outras recordações, que começam a tornar-se importantes para mim.
- A dor dramatizava o facto de eu ter um corpo, não, de eu ser um corpo.
- Nunca tinha compreendido que a possibilidade de nos concebermos a nós próprios como uma coisa una e ordenada, como um eu humano, depende da existência de uma probabilidade de futuro. O próprio sentido do eu assenta no facto de ele poder existir no dia seguinte também.
- Todas as coisas acabam por ter o sentido que nós lhe damos.
- O paraíso oferece problemas interessantes. O que é um estado de felicidade que se prolonga indefinidamente?
- … a palavra “eu” é a mais vazia de todas. É o ponto oco da língua.
- Recomeçamos. Não nos rendemos.
- O ser humano, esse estranho animal, balançando entre animal e esperança.
- O medo de enlouquecer é no fim de contas o medo de nos transformarmos noutra pessoas.
- No fundo de cada pessoa há um enigma impenetrável. O negro da pupila não é mais do que essa noite sem estrelas. O negro no fundo dos olhos não é mais do que as trevas do próprio universo.
- Só como enigma o ser humano assume toda a sua grandeza e transparência.
- Ninguém está em sua casa no universo.
- Eu, eu, eu, eu… ao fim de apenas quatro repetições uma palavra sem sentido.
- Era de um negro diferente, o negro esperto e enxuto dos répteis. Comparado com o olho de um réptil, o de um mamífero parece viscoso, meio embriagado pelas forças quentes da vida. O réptil olha a direito para o escuro, com um olhar seco. Sabe deus o que ele vê. Algo – diferente?
sábado, dezembro 16, 2006
Ando há dias a tentar reunir a coragem necessária para te contar o meu sonho. Para te dizer como no meu sonho despertei abraçada a ti. Melhor, abraçada por ti. A paz que senti com o teu calor que me aquecia a alma, quis dizer-to. O conforto dos teus braços que me queriam no seu círculo aberto. Tenho dificuldade em exprimir a serenidade que me deste nessa noite que sonhei contigo. E como não tenho coragem de dizer, escrevo-te, aqui, que quero acordar contigo sem ser num sonho meu.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
A que distância te posso amar?
Amo-te na ideia de ti, em mim. Amo-te em mim.
quarta-feira, dezembro 13, 2006
De crimen capitallis
E este foi mais um capítulo na vida das personagens Jaime Ramos e Isaltino de Jesus e fornece uma maior viagem ao passado de Ramos. É um policial em que poucos ou nenhuns pormenores são revelados e que nos permite também uma incursão por terras brasileiras – ou não fosse esta outra paixão do autor – e pela sua pintura. Para quem viu há uns meses a série Um Só Coração alguns destes pintores brasileiros que se seguem não são novidade, mas aqui ficam:
Tarsila do Amaral - Llasar segall - Ismael nery - Vicente do Rego Monteiro - António Gomide - Victor Brecheret -
quarta-feira, dezembro 06, 2006
Um Crime Capital, F. J. Viegas
- Era uma chuva fria porque vinha do mar. mas não era salgada, nem tinha aquela leveza da espumas das ondas.
- O que esperava que acontecesse então? – Que me traísse só. Que mos pusesse como uma mulher os deve pôr a um homem. Com categoria, claro, evidentemente. E com classe. E, se possível, em segredo. Ela era capaz disso tudo.
-… a partir dos quarenta, salvo erro, tomam-se opções muito claras sobre o casamento, as conveniências e as aparências.
- Dava-me jeito. Mas suponho que não vale a pena falar do que me dava jeito. O mundo é como é.
- … ao contrário do vinho, que não tem finalidade alguma quando é bebido com prazer.
- … não gostava de sonhos, nem de pesadelos, nem do próprio sono, até. Preferia a memória, que poucas vezes o traíra, e ele sabia que isso era uma sorte.
- … os bares devem ter uma luz própria, um tipo de bebidas e um tipo de frequentadores e todos os bares devem ter os seus homens perdidos, passageiros desesperados do fim da tarde, bebedores silenciosos, fumo nas paredes, mas sobretudo aquele silêncio de que ele gostava.
-O meu mundo acaba na Praça de Espinho, aos sábados, para comprar peixe. Daí para baixo já é o fim do mundo.
- A minha vida misturou-se comigo. Quer dizer, apareceu na história que andava a trabalhar. Como é que isso se resolve?
- Acredito só em coisas simples: maldade, inocência e vingança. A justiça é outra coisa, e nunca a encontrei. Mas encontrei a inocência, encontrei a maldade e encontrei a vontade de vingança.
O que fazes com essa idade? Não reservaste nenhuma memória que te salve, nenhum nome que te absolva, nenhum caso amoroso que explique as tuas tragédias pessoais, particulares, únicas, desinteressantes, tão banais que aparecem explicadas em todos os livros.
- Só ficamos surpreendidos de vez em quando, e isso é só quando queremos ou quando estamos distraídos. Já nada me surpreende.
-Falta-te alguma experiência literária para seres um bom polícia. Todos nós devíamos antes de entrar para isto ler uma biblioteca, interessarmo-nos por alguns livros. Eu comecei muito tarde. O Carvalho começou muito mais tarde. Mas é fundamental.
- Mas o preço funciona em função da sua raridade e do mito que se criou.
- Tímido o sorriso. É o sorriso que se usa nestas alturas, o dos parcialmente vencidos nas pequenas batalhas. Aprendera a usa-lo há muito tempo e praticara-o com aplicação nas circunstâncias indicadas e mesmo nas outras, nas que requeriam descrição, dissimulação ou só frieza.
- O amor é a última das ilusões, a última ilusão, o último instante de luz.
- A vida toda é só um arquivo monumental de que se escolhem duas ou três passagens, dois ou três minutos.
terça-feira, novembro 28, 2006
Marie Antoinette
Não acho que seja um filma extraordinário, mas considere-o um bom exercício de estilo. Pega-se numa personagem histórica com uma imagem pública denegrida e procura-se dar uma versão diferente e quase oposta da mesma. Segundo alguns historiadores, esta imagem histórica que conhecemos não será tão negra como se pinta, mas esta versão de Sophia também não convence como real. Parece demasiado delico-doce. Talvez isso se deva ao exagero de doces e cor-de-rosa que povoam o écrã.
Doces em quase todos os fotogramas. Nos que não há, há cor-de-rosa, é sempre muito, demasiado rosa que só é quebrado pelo vislumbre de uns all stars azuis. Pois é! Deve ser criatividade artistica.
For a isso, o guarda-roupa é lindissímo, os cenários também, ou não fossem eles reais, e o desempenho de Kirsten Dunst igualmente. Mas para mim o melhor, e mais digno de nota, é Jason Schwartzman na sua composição de um Luís envergonhado, desajeitado e com uma enorme paixão por fechaduras.
sexta-feira, novembro 24, 2006
Dicionário
Vergontea - do Lat. virgulta, moita coberta de rebentos, s. f., Bot., ramo tenro de árvore; rebento; haste; fig., prole; filho; descendente.
Adstringir - do Lat. Adstringere, v. tr., unir, apertar, fazer encolher (os tecidos orgânicos); v. refl., cingir-se.
Meditabundo - do Lat. Meditabundu, adj., que medita; melancólico; reflexivo; pensativo; meditativo.
Sincipício - do Lat. sinciput < semi, metade + caput, cabeça, s. m., o alto da cabeça; cocuruto.
terça-feira, novembro 21, 2006
Minto até ao Dizer que Minto, J. L. Peixoto
- … não sei explicar todas as rodas dentadas daquilo que aconteceu.
- Estar errado é mentir sem saber. Errei quando disse tudo e quando não disse nada. Errei quando disse todos, ou ninguém, ou sempre, ou nunca. Seria tão bom se tivesse uma explicação simples para o mundo.
- Cheguei à rua quando a tarde chegava ao seu próprio descanso.
- … aceitar que os homens com mais de dois metros vêem o mundo de uma maneira que nunca poderei compreender completamente.
sábado, novembro 18, 2006
sexta-feira, novembro 17, 2006
Os Filhos do Homem
É neste ambiente caótico que a personagem de Clive Owen é desafiada a acompanhar uma jovem grávida a um porto de abrigo onde poderá criar essa criança, que tem sobre si o peso da esperança de continuidade de uma humanidade em vias de extinção e que por isso mesmo é tratada como que um bem a ser detido e utilizado como moeda de troca sem qualquer atenção às suas necessidades enquanto ser individual e com direito a uma harmonia.
É de salientar a plausibilidade da história, a cenografia e a construção de ambientes extremamente realista e a realização.
Timbuktu, P. Auster
- A diferença não residia no facto de um ser pessimista e o outro optimista, mas sim no facto de o pessimismo de um ter conduzido a um etos de medo, ao passo que o pessimismo do outro produzira um ruidoso e refractário desdém por Tudo Aquilo que Existia.
- Deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrámos. Isso é o melhor que um homem jamais poderá fazer.
- Eu próprio as pus muitas vezes e a única resposta a que cheguei em toda a minha vida é aquela que não responde a nada: porque eu quis que fosse assim. Porque não tive alternativa. Porque não há respostas a perguntas destas.
- E o poeta? O poeta, suponho, ficou algures no meio, no intervalo entre o melhor e o pior de mim.
- … uma jogada desesperada no vil jogo o Ego, que era precisamente o jogo em que toda a gente perdia, em que ninguém jamais poderia ganhar.
- Os pombos podiam ser mais estúpidos que os cães, mas era por isso mesmo que Deus lhes tinha dado asas em vez de cérebros.
- … era a prova provada de que o amor não era uma substância quantificável. Havia sempre mais amor algures e, mesmo depois de se ter perdido um amor, não era de modo nenhum impossível encontrar um outro.
- … a primeira vez que compreendia que a memória era um lugar, um lugar real que se podia visitar, e que passar um bocado no meio dos mortos não era necessariamente mau, que, na realidade, isso podia ser uma fonte de grande conforto e felicidade.
- É esse o problema com a gente miúda. Podem ter as melhores intenções, mas não têm poder nenhum.
terça-feira, novembro 14, 2006
De portus ficcionis
Talvez o erro seja meu. Não se deve esperar nada dos livros, apenqas receber o que eles estiverem dispostos a revelar.
Curioso é o facto de todos os textos dos autores brasileiros terem como temática o resgate de um passado familiar: uma mãe, um avô, uma infância, uma memória de palavras. É a maldição deste nosso país irmão que encontra em Portugal um sempre presente fantasma do passado. Nunca é a visão de um começo, de uma tábua rasa de descoberta, há sempre um grão de passado. Essa fatalidade nacional que nós mascaramos de saudade e que inevitavelmente passamos aoutros paises da lusofonia. Portugal é sempre um retorno e nunca um início.
sábado, novembro 04, 2006
Porto. Ficção, VVAA
- O homem nasceu só e vai morrer só. Por mais que tentem encobrir a verdade de Deus.
- A saudade é essa forma de fazer do horror o orgulho da nação.
- Os nossos contemporâneos da infância são a prova viva de que um dia também fomos jovens.
- Sem eles, a nós não restava mais do que a velhice.
- … o espírito do corpo como o espírito do lugar, começa exactamente pelo seu exterior.
- O grande problema do poeta é trabalhar demasiado a metáfora, esquecer demasiado a intriga.
- Uma reapredizagem tão profunda implica uma radical perca de juízo. Isto é, implica a infância.
- … atingiu os sessenta anos de idade. Era altura de pensar na vida. Ou melhor, na morte e nas suas inconveniências.
- … os dias são o arco de luz que só a memória perfaz…
- Uma cidade não se dá, come-se devagar como um nome estranho que resiste na boca, uma cidade não tem horas certas, de repente estamos na hora absoluta, às vezes é só um minuto essa hora.
- … um nome é a paz de qualquer chegada.
- Como uma árvore, às vezes penso, o homem pode subir alto, mas as raízes não sobem. Estão na terra, para sempre, junto da infância e dos mortos.
sexta-feira, outubro 27, 2006
Reminiscências esfumadas
E quando tento trazer à memória a agitação da noite, não consigo. Vislumbro apenas reminiscências esfumadas da noite que por mim passou. Não consigo aceder às conclusões e decisões tão sabiamente atingidas, nem às imagens que me povoaram a mente. De quando em quando parece que encontro o fio da meada, mas é apenas mesmo um pequenino fio, nada mais. Nada mais.
quinta-feira, outubro 26, 2006
O Perfume, P. Suskind
- Apenas escolhera a vida por uma questão de desafio e pura malvadez.
- … o espírito do que havia sido, liberto dos importunes atributos da presença…
- Conhecia no máximo raríssimos estados de um morno contentamento.
- A infelicidade de um homem resulta em não querer manter-se tranquilamente no seu quarto, onde pertence.
- … passara a vida a renunciar, ao passo que nunca havia possuído e perdido depois.
Dicionário
Lábdano - do Ing. Labdanum, s. m., produto resinoso de algumas plantas, em especial da esteva-de-creta; ládano.
Decocção - do Lat. Decoctione, s. f., operação que consiste em extrair os princípios activos de uma substância vegetal por contacto mais ou menos prolongado com um líquido em ebulição; cozimento.
Estoraque - do Lat. styrace < Gr. Stýrax, s. m., bálsamo; resina odorífera produzida pelo estoraque; Bot., arbusto da família das estiráceas que produz aquela resina; benjoeiro; Beira, boémio; estoira-vergas.
terça-feira, outubro 24, 2006
A Poeira que cai sobre a terra, F. J. Viegas
- Um homem vive com pouco quando não vive de nada.
- Homens solitários não aprendem novos caminhos…
- Males de amor não me interessam … o amor é um incómodo.
- Sentimentalismo é fácil de mais, banal demais. Versos. Palavras com efeitos certos, com sentidos muito parecidos ao seu contrario.
- … a primeira inutilidade a ser destruída, o amor.
- A primeira vez que ele enfrentara a morte aconteceu numa manhã em que se olhou ao espelho e percebeu que tinha quarenta e cinco anos e compreendeu que metade da sua vida tinha sido gasta, desperdiçada ou apenas vivida.
- … aprendera que as grandes histórias de amor terminam com o frio da morte, terminam no frio da morte. E que, muito frequentemente, o amor leva à morte…
- A delicadeza da vida abandonada incomodava-o. aquela delicadeza.
- E há casas, porque as casas são fundamentais numa história.
- … as explicações são um luxo inacessível muitas vezes, uma contrariedade para toda a vida.
sábado, outubro 21, 2006
De Abril Despedaçado
Escrito em 1974 por Ismail Kadaré, Abril Despedaçado transporta-nos para os áridos planaltos albaneses onde impera o kanun, uma lei consuetudinária com origem em tempos imemoriais, e caracterizada pelo fatalismo e pela impossibilidade de fuga. Em 2002 o realizador brasileiro Walter Salles adaptou esta história de fatalidade ao cinema, transpondo a acção para o recôndito e igualmente árido interior brasileiro. E se o cenário não é o mesmo, o que provoca adaptações ao enredo, no entanto, este mantêm a sua essência inalterada.
Em ambos, o drama humano é tratado com extrema delicadeza e subtileza, mostrando o vazio e a falta de perspectivas a que as personagens estão votadas. A incapacidade de lutar contra o peso da tradição que é tão opressiva quanto o horizonte árido que as rodeia, no qual a vida parece sempre condenada e onde a morte é um dado sempre presente e visível.
O kanun, que dá um aparente livre arbítrio aos homens, encontra apenas uma ligeira fuga, ou antes, um breve adiar da sua sentença pelo amor. Deste modo o papel da mulher apresenta-se como redentor, sendo ela a única figura capaz de desafiar a velada e imposta autoridade, pois devido à sua aparente fragilidade está fora do alcance do kanun, mas como é igualmente observadora exterior e vitima, é a única capaz de o questionar.
sexta-feira, outubro 20, 2006
Exercício
II
quinta-feira, outubro 19, 2006
Relato tardio de férias
Depois foram vários fins-de-semana na santa terrinha, em que nem tudo foram rosas e em que infelizmente não aproveitei o que gostaria. Às vezes bem penso que tenho de pensar mais em mim, mas acabo sempre por estabelecer outras prioridades.
Uma outra pausa igualmente necessária foi o concerto dos Simply Red, cuja música para mim é autêntica musicoterapia. Acho é que precisava de mais uns quantos durante o ano. Talvez a carteira é que não gostasse muito…
Os dias que fiquei em casa só me apeteceu molengar, molengar, molengar e o mínimo toque do telemóvel só me dava vontade de o mandar contra a parede e a outra pessoa dar uma volta.
Agora retomaram os afazeres, os encontros, a algazarra, os compromissos. Espero que este ano, que animicamente esteve bem longe de ser dos melhores, acabe bem melhor do que começou, porque apesar de me sentir bem melhor, afinal o sol é para isso que serve, ainda me sinto bastante periclitante e relativamente instável.
sexta-feira, outubro 13, 2006
Abril Despedaçado, I. Kadaré
- Estamos a aproximar-nos da zona obscura, da zona onde as regras da morte se situam antes das regras da vida.
- Há gente idiota, mas não existe um estado estúpido. Se o estado faz de conta que não vê o que se passa, é porque sabe muito bem que a sua máquina judiciária ia emperrar ao primeiro confronto com o antigo código.
- Como todas as coisas grandiosas, o kanun está para além do bem e do mal.
- É simultaneamente absurdo e fatal, como todas as coisas grandiosas.
- De algumas pancadas batidas a uma porta pode depender a sobrevivência ou a extinção de gerações inteiras.
- … os vivos não passam de mortos de passagem por esta vida…
- a pouco e pouco, o espírito enchia-se de uma nebulosidade acinzentada. Qualquer coisa mais do que nevoeiro mas menos do que pensamento. Qualquer coisa de intermédio, opaco, extensível e lacunar. Mal uma zona do seu cérebro se descobria, logo outra se encobria.
- E sentiu que aquela era uma pergunta que podia preencher toda uma existência humana.
quinta-feira, outubro 12, 2006
Dicionário
Fiacre - do Fr. fiacre < (Saint) Fiacre, s. m., trem de aluguer.
Escrínio - Lat. Scriniu, s. m., escrivaninha; cofre pequeno; guarda-jóias; estojo.
Gemebundo - do Lat. Gemebundu, adj., que geme; gemedor.
terça-feira, outubro 10, 2006
segunda-feira, agosto 28, 2006
É verdade...
quinta-feira, agosto 24, 2006
Hamlet na Regaleira
A mais recente produção do Teatro Tapafuros mantém os parâmetros a que já nos habituou, demonstrando, no entanto, uma maior maturidade, resultado da qualidade homogénea de todos os elementos que a compõem.
Sendo uma das mais extensas peças shakesperianas, Hamlet requer um enorme esforço físico por parte dos seus actores, nos quais é notória a entrega de corpo e alma às personagens, nunca cedendo a falhas no ritmo intrépido a que é transmitido o texto.
A encenação de Rui Mário é sóbria ao apostar na simplicidade de adereços (utilizando os estritamente necessários), sem deixar de demonstrar as complexidades da trama através de uma coreografia de grande beleza estética, que serve o texto na perfeição. Neste aspecto, é bem coadjuvado pela banda sonora omnipresente que se funde com as várias densidades dramáticas, sem, no entanto, as ofuscar.
De notar ainda, o criativo guarda-roupa que funde influências medievais e modernidade.
Não percam!
quarta-feira, agosto 23, 2006
Finalmente...
De Palhaços
Fui ao salão dos bombeiros assistir a um espectáculo para os sócios e uma das atracções era um palhaço para animar as crianças. Sentados todos em roda do palhaço foi uma completa alegria até ao momento em que num gesto aleatório sujei a manga do meu vestido azul com a tinta da maquilhagem dele. A partir desse momento já não consegui desfrutar da brincadeira. Só olhava para a mancha e pensava que o meu vestido tão lindo estava sujo e que a culpa era daquele palhaço e cada vez que olhava para ele já não via o palhaço mas sim alguém assim vestido.
Já não era divertido era algo esquisito e estranho. A roupa era suja nalgumas partes como se não sendo lavada após cada actuação. A maquilhagem estava longe de ser perfeita. Os contornos não eram tão precisos como primeiro pareciam e conseguia perceber a porosidade da sua pele.
E fiquei assim o resto da animação sentada a observar os pormenores a desfazer a ilusão, sorrindo sem convicção quando ele olhava para mim, pois eu percebia que para os outros miúdos aquilo estava a ser uma festa.
Fiquei satisfeita quando acabou e pudemos ir brincar à apanhada.
terça-feira, agosto 22, 2006
Duas Mulheres Em Novembro, V. G. Moura
- … nada volta para trás quando a roda da vida desanda.
quinta-feira, agosto 17, 2006
LUCKY NUMBER SLEVIN
Depois da leitura da sinopse promocional a reacção foi: deve ser uma grande banhada, mas depois, há falta de outras boas opções, acabou por ser o título vencedor, e que se revelou um óptimo filme.
Um argumento muito bem construído e sublimado por uma edição excelente. A cinematografia e a trilha sonora a criarem a ambiência perfeitas à história. E, last but not least, as interpretações irrepeensiveis, com J. Hartnett a demonstrar que é muito mais do que um rosto bonito. Há já quem aposte em nomeações...
Como as cerejas
Gosto que ao ver um filme como Mondigliani, assumidamente ficcional, me faça descobrir a veracidade por detrás da verosimilhança e assim rever os quadros de Picasso e de Mondigliani. Descobrir a existência de Utrillo e que Chaim Soutine não é só a personagem calmuca de um dos Contos Imprevistos de Roald Dahl. E para quem não conhece, foi este senhor que escreveu Charlie e a Fábrica de Chocolate que Burton adaptou ao cinema. Assim, chega-se a casa, pega-se na enciclopédia e ocupa-se mais uns bites na base de dados. E talvez seja agora a vez de descobrir Gertrud Stein e Jean Cocteau.
Gosto das invisíveis ligações que se tecem em tudo o que nos rodeia e apreendemos. Como quando ao ler H. Kunzru e Salman Rushdie constato o quão importante é a questão da identidade para um povo colonizado, uma questão próxima da realidade da nossa colonização e tantas vezes abordada por Agualusa. Somos o quê?
Pelo que apreendo a anglicidade e a lusofonia têm diferenças, ou talvez eu assim o sinta por não sentir o completo efeito da lusofonia, pois não é um conceito que me seja imposto. No entanto, sinto que a anglicidade de Dahl, Lodge, Kunzru e Rushdie são um conjunto de regras e convenções sociais quase intransponíveis.
A lusofonia, se é que são realmente conceitos paralelos ou até comparáveis, não o parece ser. Talvez seja devido ao nacional porreirismo.
Mas gosto de receber as linhas que se inscrevem nessas histórias e com elas tecer mas um pouco da minha malha de entendimentos.
Por isso, quando revistas e até iogurtes sugerem livros, não nego à partida um autor que desconheço. Nunca se sabe onde uma nova página nos levará.
P.s. E nem a propósito, entre escrever e postar este artigo comprei o livro Abril Despedaçado de Ismaíl Kandaré que serviu de base ao filme homónimo do brasileiro Walter Salles. Se a história é a mesma o cenário é bastante diferente.
sexta-feira, agosto 11, 2006
O Sorriso ao pé das Escadas, H. Miller
- … há milénios que os seres humanos se enganam no caminho, há milénios que todas as suas buscas e interrogações desaguam num beco sem saída.
quinta-feira, agosto 10, 2006
Quando o sol tomba no horizonte
E a luz diáfana já não é suficiente
Para decifrar as letras que leio
Levanto os olhos e recebo
O seu vagaroso diluir
Quando somente uma réstia de luz
Cinza o céu
Olho para dentro e vejo o vazio
E fico triste
Ninguém entrará e tento ocupar o espírito
Até o sono vir
Mas o sono tarda, tarda
E a tristeza cresce
E quando cansada cede finalmente lugar ao sono
Será somente para ganhar forças
Amanha voltar novamente
Quando o sol tombar no horizonte.
segunda-feira, agosto 07, 2006
Penguin's 60s
THE BEST JOURNEYS
On the Road, Jack Kerouac – na prateleira, iniciado, mas não achei muita piada.
The Odyssey, Homer
The Grapes of Wrath, John Steinbeck
Three Men in a Boat, Jerome K. Jerome
Alice’s Adventures in Wonderland, Lewis Carroll – tenho uma aversão a esta personagem que não consigo explicar, dificilmente lerei o livro, mas nunca se sabe
THE BEST DECADENCE
The Great Gatsby, F. Scott Fitzgerald – na prateleira
Vile Bodies, Evelyn Waugh
The Picture of Dorian Gray , Oscar Wilde
The Beautiful and Damned, F. Scott Fitzgerald
Against Nature, J. K. Huysmans
THE BEST REBELS
The Autobiography of Malcolm X, Malcolm X
The Outsider, Albert Camus – a pergunta dos 12.500
Animal Farm, George Orwell – lido aos 17 contribuiu em muito para o meu cepticismo em relação ao ser humano, mesmo assim continuo a pensar que é preciso acreditar em ideais para que o mundo melhore
The Communist Manifesto, Karl Marx and Friedrich Engels
Les Misérables, Victor Hugo
THE BEST SCIENCE FICTION
The Time Machine, H. G. Wells
The Man in the High Castle, Philip K. Dick
The Invisible Man, H. G. Wells
The Day of the Triffids, John Wyndham
We, Yevgeny Zamyatin
THE BEST VIOLENCE
A Clockwork Orange, Anthony Burgess
Hell’s Angels, Hunter S. Thompson
A Tale of Two Cities, Charles Dickens
Another Country, James Baldwin
In Cold Blood, Truman Capote – na prateleira, iniciado e não me parece que seja acabado tão depressa quanto isso
THE BEST HIGHS – nesta secção só mesmo o Trainspotting, muito Hilário!
Junky, William S. Burroughs
The Moonstone, Wilkie Collins
Confessions of an English Opium-Eater, Thomas De Quincey
The Subterraneans, Jack Kerouac
Monsieur Monde Vanishes, Georges Simenon
THE BEST SUBVERSION
1984, George Orwell
The Monkey Wrench Gang, Edward Abbey
The Prince, Niccolo Machiavelli
Bound for Glory, Woody Guthrie
Death of a Salesman, Arthur Miller
THE BEST CRIMES
Maigret and the Ghost, Georges Simenon
The Woman in White, Wilkie Collins
The Big Sleep, Raymond Chandler
A Study in Scarlet, Arthur Conan Doyle – hum, xiiii, há tantos anos
The Thirty-Nine Steps, John Buchan
THE BEST ADULTERY
Madame Bovary, Gustave Flaubert
Thérèse Raquin, Emile Zola
Les Liaisons dangereuses, Choderlos de Laclos
The Scarlet Letter, Nathaniel Hawthorne – depois de The House of the 7 Gables não me parece que volte a pegar em Hawthorne
Anna Karenina, Leo Tolstoy
THE BEST DEBAUCHERY
I, Claudius, Robert Graves – bem, agora a série está em DVD
Hangover Square, Patrick Hamilton
The Beggar’s Opera, John Gay – quem sabe um destes dias, afinal adorei a Ópera do Malandro do Chico Buarque
The Twelve Caesars, Suetonius
Guys and Dolls, Damon Runyon
THE BEST ACTION
Treasure Island, Robert Louis Stevenson – na prateleira
The Iliad, Homer
The Count Of Monte Cristo, Alexandre Dumas – depois do filme, deve ser difícil lê-lo
From Russia with Love, Ian Fleming
War and Peace, Leo Tolstoy
THE BEST LAUGHS
Cold Comfort Farm, Stella Gibbons
The Diary of a Nobody, George and Weedon Grossmith
The Pickwick Papers, Charles Dickens
Scoop, Evelyn Waugh
Lucky Jim, Kingsley Amis
THE BEST CRAZIES
One Flew Over the Cuckoo’s Nest, Ken Kesey
The Diary of a Madman, Nikolai Gogol
Wide Sargasso Sea, Jean Rhys
Crime and Punishment, Fyodor Dostoyevsky
Notes From Underground, Fyodor Dostoyevsky
THE BEST SEX
Story of the Eye, Georges Bataille
A Spy in the House of Love, Anaïs Nin
Lady Chatterley’s Lover, D. H. Lawrence – na prateleira, grande maluco para a época aquele Lawrence
Venus In Furs, Leopold Von Sacher-Masoch
The Canterbury Tales, Geoffrey Chaucer
THE BEST VILLAINS
The Brothers Karamazov, Fyodor Dostoyevsky
Heart of Darkness, Joseph Conrad – livro excelente, e, pela 59ª vez, afirmo a origem da melhor adaptação cinematográfica que já vi: Apocalipse Now
Diamonds are Forever, Ian Fleming
The Master and Margarita, Mikhail Bulgakov
The Secret Agent, Joseph Conrad
THE BEST LOVERS
A Room with a View, E. M. Forster
Wuthering Heights, Emily Brontë – primeiro ano de faculdade, depois deste, nunca mais li um livro sem um lápis na mão para os sublinhados
Don Juan, Lord Byron
Love In A Cold Climate, Nancy Mitford
Cat on a Hot Tin Roof, Tennessee Williams
THE BEST HEROES
David Copperfield, Charles Dickens
Middlemarch, George Eliot
She, H. Rider Haggard
The Fight, Norman Mailer
No Easy Walk to Freedom, Nelson Mandela
THE BEST TEARJERKERS
Of Mice and Men, John Steinbeck
The Age of Innocence, Edith Wharton – tema de trabalho na faculdade, gostei de pedir à professora se podia personalizar o tema pois não concordava com as duas propostas dela
Notre-Dame De Paris, Victor Hugo
Jude the Obscure, Thomas Hardy – na prateleira
The Old Curiosity Shop, Charles Dickens
THE BEST SPINE-TINGLERS
The Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde, Robert Louis Stevenson
Dracula, Bram Stoke
Frankenstein, Mary Shelley – em tempos de clonagem, deveria ser leitura obrigatória, pois aborda muito claramente o tema da “criação artificial” de um ser e o modo como o tratamos
The Castle of Otranto, Horace Walpole – na prateleira
The Turn of the Screw, Henry James – na prateleira
THE BEST MINXES
Vanity Fair, William Makepeace Thackeray
Lolita, Vladimir Nabokov
Baby Doll, Tennessee Williams
Breakfast at Tiffany’s, Truman Capote – ao contrário da música, adoro o filme
Emma, Jane Austen – filme engraçado
Dicionário
engolfado - adj., mergulhado, imerso; fig., absorto, concentrado.
malsão - fem. Malsã de mal + são, adj., doentio; insalubre; enfermiço; mal curado; fig., maldoso; maléfico.
estrénuo - do Lat. Strenuu, adj., tenaz; esforçado; valente; corajoso.
rododendro - do Lat. rododendron < Gr. rhodódendron < rhódon, rosa + déndron, árvore, s. m.,
género de ericáceas ornamentais; loendro; cevadilha.
sexta-feira, agosto 04, 2006
Em Valada deixei o meu coração
De muitos agradecimentos, um em especial ao Mário pelo convite singelo. Recebi mais do que poderia alguma vez imaginar.
De vozes graves…
André Sardet
Sting
Elvis Costello
Joss Stone
Mick Hucknall
Bryan Ferry
Marisa Monte
Anne Sofie Von Otter
Bono
Maria Bethânia
George Michael
Chris Isaak
Freddie Mercury
Bruce Springsteen
Amália
Robbie William
Leonard Cohen
Carlos do Carmo
quarta-feira, agosto 02, 2006
No dia em que eu nasci...
quarta-feira, julho 19, 2006
segunda-feira, julho 17, 2006
O Senhor Ventura, M. Torga
- Evidentemente que nem todas as existências têm a mesma significação. Mas, em última análise, também as menos relevantes são indispensáveis ao conjunto. Enriquecem-no. sem elas, certas horas intermédias e simples, duma expressividade humilde, ficariam por revelar. E a harmonia é o todo, o grande e o pequeno de braço dado.
- O pior defeito dela era não ser capaz de se mostrar fraca quando a própria vida o pedia. Era não poder atenuar as arestas das suas palavras, nem vestir a expressão nua das suas emoções.
- Ah, eu acredito que esta fidelidade inconsciente ao granito, ao luar e à urgeira encerra uma grande lição de vitalidade e de singularidade. Vejo nela uma prova do nosso destino nacional e universal.
- A lógica de cada vida é tão perfeita, que até mete aflição.
sexta-feira, julho 14, 2006
Excissão
sexta-feira, julho 07, 2006
Uma outra história… de mim
Segundo relatos, quando a minha avó paterna, que vivia connosco, faleceu, fui eu, com cerca de dois anos, que abria a porta de casa e fui chamar a nossa vizinha. Apesar desse relato, não tenho qualquer memória desse momento. Recordo sim o velório da minha avó, do qual tenho duas imagens.
A primeira corresponde à de dois homens vestidos de negro e empunhando cada um um castiçal a entrarem pela porta adentro. E eu olhava para eles do alto dos meus dois anos e eles pareciam muito grandes e muito estranhos. Dois desconhecidos vestidos de negro.
A segunda imagem é a da minha avó no caixão aberto, creio que forrado a veludo grená, e com as mãos cruzadas sobre o peito. Os ditos castiçais encontravam-se em cada topo do caixão e eu observava tudo isto ao colo do meu pai.
Como já referi, nenhuma destas imagens me traumatizou, nem o facto do velório ter sido naquele onde pouco depois se transformou o meu quarto. Mas para mim toda aquela situação foi estranha. Objectos e pessoas desconhecidos a entrarem assim em nossa casa. E para quê? Sim porque para uma criança dessa idade, o conceito de morte mais não é que uma ausência que não se percebe porquê. Apenas, alguém lá estava antes e agora não está. Foi algo de surreal. Mas também de uma certa naturalidade. Observei aquilo com uma neutralidade que não me afectou.
Talvez por isso quando vejo Sete Palmos de Terra me reveja um pouco naquela família. Porque em nenhum outro filme, série ou livro, tenha reconhecido aquele sentimento de neutralidade relativamente à morte. É algo que vemos, envolve certos rituais institucionalizados que raramente compreendemos, acontece sem uma razão aparente e que apenas podemos observar. Não podemos evitar, apenas aceitar.
terça-feira, junho 27, 2006
Vinte e Zinco, M. Couto
- Afinal, onde a noite mais escurece é em volta do pirilampo. S
- Forte, ser forte que o fracos não gozam as História.
- … você não manda, você só dá ordens. Entendeu?
- Só matas os que eles deixam morrer.
- … os vivos têm sombras que se desenham no tempo.
- Cada ser tem duas margens, uma em cada lado do tempo.
- Dois irmãos são como duas abóboras: podem chocar mas nunca quebram.
- Deus criou a bebida, o homem fez o copo.
- Deus fez a árvore para que o homem não sentisse medo do tempo.
- Triste é escolher entre o mau e o pior.
- E dá azar avançar directo num assunto. O besouro, antes de entrar, dá duas voltas à toca.
- Não diga isso, que as palavras chamam as sucedências.
- O que dá estranheza na guerra é que ela não nos sai da memória, de tal modo que dela não recordamos exactamente nada.
- Quem não tem parentesco com a vida não chega nunca a morrer devidamente.
- A guerra é vaidosa: se ostenta mesmo nos lugares onde se diz ser a exclusiva moradia da paz.
- Não era defeito de visão mas falta de outras luzes que nos desvendam para outras vidas.
- A exibição da fragilidade é a defesa do fraco.
- O que importa não é passear de noite mas deixar a noite passear-se em nós.
- Não são os brancos que são gente sozinha. Sua cultura é que é muito solitária.
Num disparo ao avesso se desvire
E o sangue aberto se arrependa
E retorne ao leito onde escorreu
Que, enfim, a espingarda seja morta
E se escreva na campa deste tempo:
- aqui jaz a bala
- sentenciada por mandato
- da vida contra o homem.
sexta-feira, junho 23, 2006
Dicionário
cilício - do Lat. ciliciu < kilíkion; s. m., ant., pano grosseiro de pele de cabra com que se cobriam os soldados e marinheiros; túnica ou cinto largo de crina ou lã áspera, por vezes provido de puas, que se trazia sobre a pele por mortificação; fig., tormento, martírio, sacrifício voluntário.
sinestesia - do Gr. sýn, juntamente + aísthesis, sensação; s. f., relação subjectiva que se estabelece espontaneamente entre uma percepção e outra que pertence ao domínio de um sentido diferente (por exemplo, um perfume que invoca uma cor ou um som que invoca uma imagem).
lupanar - do Lat. lupanar; s. m., casa de prostituição; bordel; alcoice; prostíbulo.
sambenito - do Cast. sambenito; s. m., hábito ou balandrau, em forma de saco, que se enfiava pela cabeça dos condenados, quando eram levados para os autos-de-fé.
quinta-feira, junho 22, 2006
Lenin Syriana Oil
Este paralelismo livro/filme recorda-me igualmente Heart of Darkness e Apocalipse Now, livro de Josephe Conrad e filme de F. F. Copolla, respectivamente. Há dois cenários diferentes em que os paradigmas do indivíduo, que se crê moralmente superior, se vê confrontado com o outro e colocado em situações limite que o levam a questionar as suas crenças e dogmas ao mais profundo nível.
quarta-feira, junho 21, 2006
Lenin Oil, P. R. Mendes
- … os rios do paraíso existem mesmo. Correm, petrificados, tão fundo quanto os nossos sonhos conseguem perfurar. E são negros.
- Os vidros fumados pertencem ao mesmo vício quer os óculos de sol: o luxo da invisibilidade.
- Nem reis nem papas admitiram que nem todos os sítios pertencem a Cristo. E que há sítios, de tão maus, Cristo, na sua humildade, não quis abençoar.
- A realidade é que toda a perfeição do mundo cabe dentro de uma latrina. É altura de reconhecer a merda – com o devido respeito – em que estamos metidos. É muito grande.
- O enredo não muda. Só os acontecidos.
- … o petróleo não mova montanhas mas convoca os profetas.
- Ali estavam, sentados, a esperança, o interesse, a força e o rancor. (A razão raramente assiste. )
- Quando estamos no silêncio de uma cela, os selos que chegam trazem um cheiro de liberdade e de coisas queridas. Cheiram a família. Cheiram a… ilusão.
- A filantropia consiste em não aplicar a força, que é uma questão política, mas tão-só em disponibilizar os meios, que é uma questão de comércio.
- Ser ninguém era melhor do que não ser ninguém.
- … a identidade é uma marginalidade.
- Sendo amorais, não podem ser acusadas de imorais. Não são boas nem más. São.
- Todos morremos de morte, mas a morte não se basta em ser a sua própria causa.
quarta-feira, junho 07, 2006
Syriana
Há quem decide a estratégia, quem nomeie os peões a perecer e quem dê poder provisório a outrem, mas este jogador é muito pouco visível. A sua face não o demonstra, mas o alcance dos seus tentáculos é longo.
Um filme a não perder.
terça-feira, junho 06, 2006
Dicionário
Chimango - s. m., Brasil, espécie de gavião; nome dado aos membros do Partido Liberal que se opunha à restauração de Pedro I; alcunha dada aos adeptos do Partido Republicano.
Ferrabrás - do Fr. Fier-à-Bras, n. pr.; adj. e s. m., valentão; fanfarrão.
Estorcegão - s. m., torcedela violenta e rápida; grande beliscão.
Silente - do Lat. silente; adj. 2 gén., silencioso.
sexta-feira, junho 02, 2006
2 em 1
Um Acaso Con Sentido / Instantes Decisivos
Em Bounce uma das personagens diz a certo momento algo como: “O Bud existe na tua vida porque o x já não existe. Isso não o torna culpado da sua morte”. A nossa vida desenrola-se com o que existe, não com o que não existe. Isto não quer dizer que eu não possa sonhar ou aspirar com o que não existe e batalhar por isso. Mas não adianta martirizarmo-nos com esse “se” e deixarmo-nos consumir por uma possibilidade que poderá não vir a existir e que nos impede de olhar ao nosso redor.
Costumo por vezes dizer que não adianta conjecturar com bases em “ses” como se fossem realidades, quando não passam de possibilidades. Porque se “se”, eu não estaria aqui neste momento. É o que acontece em Sliding Doors que nos dá duas realidades paralelas baseadas em dois ses: se apanhar o metro a tempo ou se não. Claro que no filme prevalece uma das opções, mas esta vai incorporar o outro se, numa espécie de prémio de consolação. Infelizmente, não tenho essa visão digamos tão positivista. É claro que a vida dá segundas oportunidades, mas nem sempre e não a toda a gente.
Esta é a vida que temos e ela mais do que ninguém sabe todas as regras de uma boa ironia. As nossas acções têm sempre consequências, maiores ou menores ou ainda a curto, médio e logo prazo, que nos apanham desprevenidas e mudam inevitavelmente o rumo do nosso futuro. Disso não tenho dúvidas.
Uma vida a 2
terça-feira, maio 30, 2006
Dicionário
Imo - do Lat. imu, o mais baixo, o mais fundo; adj., íntimo; que está no lugar mais fundo; s. m., âmago.
Guanaco s. m., Zool., mamífero camelídeo da América do Sul, espécie de lama.
Cúter - do Ing. cutter; s. m., navio de um só mastro.
Cerúleo - do Lat. caeruleu; adj., da cor do céu ou do mar.
Sabedorias
Rolo Diez
… pois só os bobos se poderiam importar com alguma coisa
Márcio de Sousa
O poeta não é aquele que canta a chuva.
Provérbio hindu
sábado, maio 27, 2006
Uma pequena história de mim
Não tenho qualquer recordação dos meus avós lá. O meu avô morreu ainda eu não tinha nascido e a minha avó quando eu era ainda pequena. As poucas imagens que dela tenho têm como cenário a casa onde nasci e ainda hoje vivo. Mas essas recordações são uma outra história…
Na nossa casa da terra, costumava dormir numa pequena sala contigua ao quarto dos meus pais. Nessa sala, além de mobílias velhas, que não podem ser consideradas antiguidades, foi pendurado a certa altura um quadro com uma menina bailarina. Era um quadro bonito, uma qualquer imitação, penso eu, de um pintor de renome, mas até agora nunca vi nenhuma imagem igual àquela. Esse quadro foi-se deteriorando ao longo dos anos perdendo a cada Inverno a inglória batalha da humidade. Na verdade, sempre me fez questionar quantas obras de arte se perderam no mundo por simples incúria ou ignorância.
O quadro ficava de frente para o pequeno divã em que dormia. Era já velho e o seu formato concavo acusava já os muitos anos de uso. Eu não me importava. Era ai que me anichava e me preparava para dormir e era ai que de manha ao acordar recebia a luz que o sol contrabandeava por entre as ténues frestas da janela.
Uma das primeiras coisa que via era o tecto de madeira num pálido tom de verde que não deveria ser muito diferente do tom original. Em cada canto do tecto havia uma pequena andorinha cerâmica que pareciam voar para o centro da sala. Era o que o tornava único.
Quando anos mais tarde o meu pai resolveu fazer obras que a casa já há muito necessitava quase toda a sua traça foi alterada. E essa sala também deixou de o ser.
Antes de se iniciar o desmancho, o meu pai e o meu tio olharam longamente para aquele tecto num momento que todos respeitámos e não ousamos sequer interromper, pois nos seus olhos tristes se percebia a solenidade da despedida.
Para mim essas andorinhas são parte da minha infância e nunca tinha pensado nelas como parte da infância do mau pai. É estranho e curioso como parece inconcebível que os nossos pais tenham tido uma infância. Para nós são adultos e pouco mais vemos deles além desse estado. É preciso um certo esforço para vermos mais além e isso não significa que o consigamos. Aliás, continuo a não conseguir ver o meu pai como criança. Mas, hoje, que já deixei a infância há alguns anos, compreendo cada vez mais aquele olhar de despedida do meu pai. O olhar resignado e triste com que nos despedimos dos lugares que nunca mais veremos a não ser nas nossas recordações. Reconheço esse olhar. Cada um de nós despediu-se à sua maneira da casa da nossa infância.
Nome de Toureiro, L. Sepúlveda
- Um homem pode suportar muita dor. O assombroso mecanismo do cérebro oferece recantos, regiões de vazio absoluto, onde é possível a gente esconder-se, e fica sempre a opção final de nos deixamos abraçar pela loucura. Para alcançar esta duas possibilidades é preciso acreditar em “qualquer coisa”, e ver, apalpar, que o silêncio persistente faz com que essa “qualquer coisa” seja inalcançável pelos torturadores.
- Perder é uma questão de método.
- Exila-se o que apenas conheceu um dos lados da medalha e que leva os seus erros mais além de onde os aprendeu, mas o que atravessou todo o túnel descobrindo que os dois extremos são escuros deixa-se ficar preso.
- É recomendável escolher os voluntários entre os menos aptos para a acção heróica ou entre os mais tocados pelos efeitos da guerra na sociedade civil.
- Há sempre um dia em que cada um de nós tem de enfrentar situações sem saída.
- … as retiradas difíceis resultam quando disfarçadas de ataques em massa.
- Eu sou um tipo disciplinado. Não penso, não dou opiniões, não acho nem digo nada. Cumpro ordens.
- Enquanto fumava pensou que tudo estava a acontecer de uma maneira mais difícil do que acreditara. Começavam a intervir os imponderáveis, os inevitáveis acontecimentos imprevistos. - E como o único modo de os enfrentar é conhece-los, decidiu fazer um inventário da situação.
- … porque é que temos tanto medo de olhar de frente para a vida, nós que já vimos as aúreas cintilações da morte.
sexta-feira, maio 26, 2006
Piada do Dia
Critérios de Selecção
- Com a tia. Porque a tia tem lá três bolas: uma pequenina de plástico, uma dura de basquete e uma grande de encher.
Situação 2
Escolhe-se um livro porque...
quinta-feira, maio 25, 2006
quinta-feira, maio 11, 2006
Grease
terça-feira, maio 09, 2006
é a vidinha...
Você é Como O Macaco Gosta De Banana: Você tem um espírito altamente brincalhão e galhofeiro – que para algumas pessoas em seu redor chega a ser abusivo. Gosta de abanar o sistema e não tem qualquer pudor em criar alguma polémica em seu redor. Preocupa-o mais a banalidade do que a incompreensão.
sábado, maio 06, 2006
De sorte
Essa sorte valeu-me bons momentos e acho que os aproveitei bem, sem ela não estaria onde estou hoje. Não me arrependo de ter aproveitado a sorte que tive.
O Teste
Your Luck Quotient: 78% |
You have a high luck quotient. More often than not, you've felt very lucky in your life. You may be randomly lucky, but it's probably more than that. Optimistic and open minded, you take advantage of all the luck that comes your way. |
quinta-feira, maio 04, 2006
Para grandes males, grandes remédios...
E é até curioso como os pequenos, os pequeníssimos remédios conseguem um tão grande alívio. Basta a iniciativa de os tomar.
quarta-feira, maio 03, 2006
Uma história de Amor como Outra Qualquer, L. Etxebarría
- … sempre defender, contra tudo e contra todos, quão importante é para uma mulher conservar a sua independência e aprender a gozar a sua solidão.
- … a mente está disposta a ignorar a realidade imediata, o que vê, e a adoptar o que julga que dever ver, ou o que deseja ver.
- … não +é esta a própria essência da paixão, este ver-se a si mesmo através dos olhos de um outro?
- Ao amor, borboletas no estômago, seguira-se o orgulho, caranguejos no estômago, as pinças raivosas exigindo uma reparação.
- … no amor, e no jazz, o prazer depende da surpresa, do inesperado, do improviso.
- Paixões consumadas, paixões consumidas, pois nenhum grande amor se ajusta ao ideal de perfeição que todo o Grande Amor postula e de que necessita. Por isso era mais fácil amar no território do desejo do que no da realidade.
- … esta obsessão moderna pelo Grande Amor … serve de desculpa perfeita para repudiar o amor quando este se apresenta.
terça-feira, maio 02, 2006
FDS Retemperador
Claro que o início do fds foi do mais enguiçado que houve, pois os planos iniciais foram todos mudados de uma hora para a outra. Mas depois da devida adaptação e numa perspectiva de não fazer mais planos, a road-trip engrenou e tudo correu bem. o caminho levou-nos até Estremoz, Borba, Elvas, Badajoz, Jerez de los Caballeros, Fregenal e Sevilha. E isto quando o plano inicial incluía somente Sevilha. Com todas estas andanças visitar Sevilha acabou por ficar somente como um pequeno aperitivo para uma futura visita com mais tempo. É uma cidade deveras bonita e demasiado grande para ver num só dia. O regresso está previsto.
Adorei a viagem, ou o espírito road trip não me estivesse no sangue, com as paragens, as paisagens alentejanas e espanholas muito semelhantes e repletas de flores em coloridos mantos. Rendi-me à arquitectura e estética árabe com a a sua complexidade e beleza geométrica. Foi realmente o fds que necessitava para me levantar o ânimo que andava tão por baixo. Agora quero mais.
sexta-feira, abril 28, 2006
De obsessão
Senti-me tomada por cada vez mais inseguranças. Percebo agora a perenidade da minha estratégia, mas não sei combate-la com mais nenhuma arma e a arma utilizada em vez de me proteger destrói, porque me afasta cada vez mais daquilo que ansiava e desejava. Sinto-me fragilizada porque percebo a necessidade de uma nova “aproximação”, mas não consigo perceber qual poderá ser e não consigo deixar de pesar como desperdiçado ou mal empregue parte do tempo passado a desenvolver a primeira.
Como combater a insegurança primeira e evitar os ataques nocivos da minha obsessão?
Dicionário
do Lat. Ignominia; s. f., grande desonra; afronta pública; opróbrio; desdouro.
Linimento
do Lat. Linimentu; s. m., medicamento untuoso, destinado a fricções.
Cloaca
do Lat. Cloaca; s. f., fossa, cano que recebe imundícies; sentina; fig., aquilo que é imundo ou cheira mal; Ornit., Zool., câmara onde se abrem o canal intestinal, o aparelho urinário e os oviductos das aves e dos répteis.
Tonsura
do Lat. tonsura, tosquia; s. f., acto ou efeito de tonsurar; coroa de clérigo. prima - tonsura: cerimónia religiosa em que o prelado dá um corte no cabelo do ordenando, ao conferir-lhe as ordens menores, ou seja, o primeiro grau de clericato.
Bedel
do Prov. bedel, oficial de justiça, arauto; s. m., empregado da universidade que faz a chamada dos estudantes e que aponta a falta destes e dos lentes.
quinta-feira, abril 20, 2006
A Aliança
A tua perdeste algures tempos depois. No ginásio, pensavas e pensei eu, não percebendo sequer a necessidade que tiveste de a tirar. Mas eu sou mulher, não raciocino do mesmo modo que um homem. Não houve qualquer necessidade de dúvida, não deixaste de me amar e querer, apenas não quiseste comprar uma nova aliança. Disseste que era apenas um objecto, eu sei que é, e que não querias substitui-lo, porque o que sentias era insubstituível. Eu sei que é. Será sempre.
Hoje tive pela primeira vez coragem para retirar a minha. O nosso amor é insubstituível. Eu sei. Amar-te-ei sempre. És parte de mim.
Hoje tirei a aliança que era só minha.
terça-feira, abril 18, 2006
A Química do Amor
O estado de paixão está ligado ao aumento de produção de Dopamina, um neurotransmissor, que se pode denominar de poção endógena do amor. O mais curioso é que a paixão tem um comportamento bioquímico em muito semelhante às DOC, doenças obsessivas compulsivas e que resultam de um desequilíbrio nos níveis de serotonina, um outro neurotransmissor.
Este é o comportamento químico do nosso corpo, mas o que nos faz atrair por alguém? São várias a teorias.
Uma é que o amor romântico tem as suas bases em momentos íntimos vividos na primeira infância, ou seja, amamos quem amamos não tanto pelo futuro que esperamos construir, mas pelo passado que pretendemos recuperar.
Outra afirma que se procura no outro o genótipo mais diferente do seu, ou seja, busca-se uma complementaridade biológica. Se o objectivo é a reprodução, a complementaridade biológica permite a formação de seres mais fortes, pois na definição genética do individuo vingam os genes mais fortes.
Fica a constatação: Escolhemos os parceiros, mas raramente se tem consciência das reacções biológicas inatas subjacentes a essa escolha.
Aponta-se para o término de relações ao fim de quatro anos, pois este é o tempo necessário a criar um filho na primeira fase de infância. A paixão afinal é bastante prática. O ser humano na sua primeira infância é completamente dependente dos seus progenitores, então a paixão tem como objectivo mantê-los unidos durante este período, após o qual a criança tem maior nível de independência.
Mas há outros motivos para a paixão se esvair. A paixão tem sempre um prazo de validade porque uma exposição demasiado longa aos seus efeitos pode provocar danos irremediáveis no cérebro. O excesso de dopamina no cérebro tem o mesmo efeito de uma droga.
Mas há maneiras de ajudar a produção de dopamina de modo a manter o “fogo” acesso. A novidade induz a libertação de dopamina, por isso fazer coisas novas juntos ajuda a manter este espírito.
Em quase contraponto à dopamina existe a Oxitocina, hormona que provoca a sensação de ligação, de apego. E que está frequentemente registada em maior nível em indivíduos com relações de longa duração bem sucedidas. mas também a produção desta pode ser ajudada: massajar e fazer amor desencadeiam a produção de oxitocina.
E já agora, sabia que: ma pessoa que corra sem sair do sítio antes de se encontrar com alguém, terá mais probabilidade de achar essa pessoa interessante. Assim, primeiros encontros que envolvam actividades de stress têm mais chance de conduzir a um novo encontro.
Dicionário
Emético - do Gr. Emetikós; adj. e s. m., que faz vomitar; vomitório.
Arrostar - v. tr. e int., encarar sem medo; fazer rosto a; enfrentar; afrontar; resistir; v. refl., encontrar-se rosto a rosto.
Núbil - do Lat. Nubile; adj. 2 gén., casadoiro.
Samovar - do Rus. samovar < samo, si mesmo + varit, ferver; s. m., espécie de chaleira metálica empregada, na Rússia, para preparar o chá.
sábado, abril 08, 2006
O Museu Britânico ainda vem Abaixo, D. Lodge
- A distracção era tão necessária para a saúde mental como o exercício para a física.
- Eu próprio não tenho qualquer afeição por crianças, mas reconheço a necessidade de as termos para dar continuidade ao espectáculo humano.
- O que importa é o amor. Quanto mais amor, tanto menos pecado.
- … há ocasiões em que, por cobardia, se deixa as pessoas pensar o pior. É a homenagem que a virtude presta ao vício.
- Falar em pureza … gera a impureza.
- … antes do romance ter emergido como a forma literária dominante, a literatura narrativa lidava só com o extraordinário ou com o alegórico – com reis e rainhas, gigantes e dragões, virtude sublime e mal diabólico. Não havia o risco de confundir esse tipo de coisas com a vida, é claro.
- O sexo não é romântico.
- … a vida é a vida e os livros são os livros e se ele fosse mulher não ia precisar que lhe dissessem isso.
sexta-feira, abril 07, 2006
Efeitos Secundários, W. Allen
- Os bons dormiam melhor enquanto os maus pareciam gozar muito melhor as horas em que estavam acordados.
- Digo isto … com a aterrada convicção de que a vida não tem qualquer sentido, o que poderia ser erradamente interpretado como pessimismo. Não é. É apenas um facto salutar para a análise do homem moderno.
- Esta situação aflige uma grande parte dos meus contemporâneos: nunca encontrar todas as qualidades que se procuram, reunidas numa única pessoa do sexo oposto!
- … o homem é livre de escolher a sua própria sorte, e só quando compreender que a morte faz parte da vida perceberá realmente a existência.
Dicionário
Pliocénico - do Gr. pleîon, mais + kainós, recente; s. m., período geológico, uma das cinco épocas do era terciária; adj., designativo dos terrenos que formam o sistema superior da era terciária e onde se encontram os fósseis mais recentes; relativo ou pertencente ao Plioceno (como adjectivo, grafa-se com inicial minúscula).
Metrónomo - do Gr. métron, medida, andamento + nómos, lei; s. m., instrumento que serve para regular os diversos andamentos da música, constituído por um pêndulo que oscila por meio de um motor de rotação horária.
Redibição - do Lat. Redhibitione; s. f., acto ou efeito de redibir; anulação de uma venda por se encobrirem os defeitos no acto da transacção.
Alabardeiro - s. m., o que usa alabarda; archeiro.
sexta-feira, março 31, 2006
Sabedorias
Vivemos por um triz, morre-se como chama que tropeça no súbito escuro.
Mia Couto
Toda a infância é um paraíso perdido para sempre.
Proust
Quando um mundo acaba, para o reparar,
Fernando Guerreiro
E a morte é a mais eficaz das mudanças, não é?
Rui Zink
o silêncio possível
Seja no campo ou na cidade, o silêncio é uma utopia não cumprida. Porque ao silêncio interior chega sempre o som exterior: carros em movimento, caixotes do lixo que se fecham, vizinhos que falam, crianças que brincam, campainhas que tocam, passos nas escadas acompanhados pelo plástico dos sacos de supermercado, elevadores, interruptores, aviões ocasionais, pássaros na árvores.
Hoje ouvi tudo isso no silêncio da minha casa.
quarta-feira, março 29, 2006
A Razão do Silêncio
O período de reflexão mantém-se.
Os resultados serão publicados brevemente.
sexta-feira, março 17, 2006
Sabedorias
José Guardado Moreira
Jorge Reis-Sá
Améry
Nietsche
quarta-feira, março 15, 2006
Vinicius de Morais
Não sentiste como é fria
Como é fria assim na noite
Como é fria, como é fria?
…
sentiste angústia, poeta
ou um espanto de alegria
ao sentires que bulia
um peixe nadando perto?
A tua carne não fremia
À ideia da dança inerte
Que teu corpo dançaria
No pélago submerso?
sábado, março 11, 2006
De silêncio
O que calas por medo, ignorância ou motivos outros, diz mais que o som proferido. Fere com a mesma intensidade que uma lâmina, pois a dor permanece e a lâmina sai.
O silêncio é a maior e mais complexa verdade de discernir. O silêncio inclui tudo o que a palavra apenas nomeia e limita no tempo e no espaço. O silêncio é um mundo aberto ao céu e tudo o que entre estes se contem.
O homem não percebe o silêncio. O seu poder libertador confunde-se com uma opressão inaudível. As suas possibilidades esbarram no limite da compreensão. O silêncio não tiraniza, mas o homem teme o seu império: a clarividência.
40 dias...40 Noites...
quarta-feira, março 08, 2006
Precisão, C. Lispector
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando,
confusos, a perfeição.
terça-feira, março 07, 2006
FDS em 4 semi-private jokes
- O Badalo do Gonçalo
- As cabeçadas do Mateus
- Os chocolates da Susana
- As velhas do Hugo