quarta-feira, agosto 23, 2006

De Palhaços

Para mim os palhaços perderam grande parte da sua magia quando tinha uns sete, oito anos de idade. Foi quando percebi que a magia para funcionar em pleno exige uma certa distância entre o seu fazedor e o seu público. Uma vez diminuído esse afastamento qualquer momento é propicio ao desmantelar da magia.
Fui ao salão dos bombeiros assistir a um espectáculo para os sócios e uma das atracções era um palhaço para animar as crianças. Sentados todos em roda do palhaço foi uma completa alegria até ao momento em que num gesto aleatório sujei a manga do meu vestido azul com a tinta da maquilhagem dele. A partir desse momento já não consegui desfrutar da brincadeira. Só olhava para a mancha e pensava que o meu vestido tão lindo estava sujo e que a culpa era daquele palhaço e cada vez que olhava para ele já não via o palhaço mas sim alguém assim vestido.
Já não era divertido era algo esquisito e estranho. A roupa era suja nalgumas partes como se não sendo lavada após cada actuação. A maquilhagem estava longe de ser perfeita. Os contornos não eram tão precisos como primeiro pareciam e conseguia perceber a porosidade da sua pele.
E fiquei assim o resto da animação sentada a observar os pormenores a desfazer a ilusão, sorrindo sem convicção quando ele olhava para mim, pois eu percebia que para os outros miúdos aquilo estava a ser uma festa.
Fiquei satisfeita quando acabou e pudemos ir brincar à apanhada.

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Henry Miller

1 comentário:

Obi-Kan Pereirinha disse...

Sou apenas um palhaço publico
Picasso