quinta-feira, setembro 29, 2005

Será esta a ligação?

Na sua demanda pelo mar Mediterrâneo, Ulisses aportou na ilha da Sicília, habitada por um ciclope, tendo-o cegado, impedindo-o assim de perseguir as suas vítimas.
Cecília, nome próprio, significa cego.
Será esta a ligação?

Sabiam que?

A família Von Trapp, imortalizada em Música no Coração, existe mesmo?
É verdade, existiu. E o filme que todos nós conhecemos não é sequer a primeira adaptação da história desta família. A primeira adaptação foi um filme alemão, tendo sido produzido depois um espectáculo na Broadway, que esteve em cena vários anos, e só depois foi realizada a versão cinematográfica protagonizada por Julie Andrews e Christopher Plummer.
Factos reais da história: Von Trapp era oficial austríaco, casado em segundas núpcias com Maria – de quem viria a ter três crianças, o casal e a sua prole fugiu da Austria aquando da ocupação nazi e emigrou para os EUA, onde sobreviveram como grupo coral familiar. Ou seja, os acontecimentos retratados no filme aconteceram sim, mas, como qualquer produção holywoodesca destinada a grandes públicos, foi bastante adocicada.
Se quiserem saber mais pormenores, estejam com atenção ao Biography Channel.
Ah, mais uma coisa, o verdadeiro Von Trapp não é nada parecido com o charmoso Christopher Plummer.

terça-feira, setembro 27, 2005

Uma volta como um cão no fundo do cesto

Em um ano a vida dá tantas, tantas voltas. Os nossos sonhos podem até tornar-se pesadelos. Por isso costumo dizer: para quê complicar a vida, se ela própria já é complicada q.b.
Fiquei triste este fim-de-semana com as novidades da P. E eu sem saber de nada e sem sequer poder confortá-la. Mas ela e o C. são fortes e a vida vai compor-se, compõe-se sempre. E eles têm uma boa razão para lutar…

P.S. Vou tentar estar mais próxima, quanto mais não seja para o desabafo.

Desabafos do meu pai…

Só há duas coisas que ainda gostava de ver e fazer antes de morrer: uma é ver a miúda casada e a outra é acabar de arranjar a casa. Só me falta acabar as obras da casa e, bem ou mal, gostava de a ver casada e amparada.

O que não disse…
Bem ou mal? Eu compreendo a tua expressão, mas para me veres mal casada mais vale não veres, não é? Sei que a intenção é boa. Casada, poderás ter a sensação que podes morrer e que eu não vou ficar desamparada. Mas não há nenhuma garantia. Se tiveres de me ver casada, verás. Bem ou mal, isso também é verdade. Mas não estou, nem ficarei desamparada se isso acontecer.
É verdade que não há esse alguém que também eu gostaria de ter na minha vida, mas há muita gente na minha vida em quem me posso apoiar e confortar. Tenho os teus filhos e netos, e sabes bem como os miúdos nos dão ânimo nos piores momentos. E tenho os meus amigos, sim aqueles que tu vês vezes nos meus aniversários não são só amigos para as festas, são para os momentos difíceis também. Não te preocupes, de uma maneira ou de outra, as coisas hão-de se compor. Tu e a mãe ensinaram muito e eu hei-de seguir a minha vida e a qualquer momento sei com quem posso contar.
Sei que apesar de não o demonstrares te preocupas, por isso espero que a tua preocupação não passe da uma natural apreensão, pois foi sempre esse o meu objectivo. Voar com as asas que vocês me deram e o voo está ensaiado. Não vou cair tão facilmente assim.

sexta-feira, setembro 23, 2005

Vou Vindimar

De escrita

- É na escrita, naquilo que ela nos devolve de nós como aprendizes da vida, leitores em crescimento, que descobrimos os escritores e as verdadeiras referências.
- O escritor vale pelos seus livros, é na escrita que ele é excepção e se imortaliza.
- … nem todos os critérios são por vezes os mais justos, mas sim os mais “adequados”.
Marta Lança

- … escrever é uma experiência, não é uma carreira.
Lídia Jorge

- É preciso sentir que não é fácil escrever – como não é, de resto, fácil viver.
A. Bessa-Luís

- … não se é escritor, está-se escritor … nem sempre somos nós quem escolhe escrever um livro. Muitas vezes é ele quem toma conta de nós.
J. E. Agualusa

- Todas as pessoas são diferentes, reduzi-las às suas características comuns é sempre reduzi-las.
- No momento da escrita, acredito na procura sincera de uma pureza absoluta.
J. L. Peixoto

- Se falamos de literatura a única coisa que importa são os livros, só os livros, apenas os livros. Os bons livros resistem aos seus autores, aos leitores de diferentes gerações, às editoras que aparecem, desaparecem, aos agentes literários, etc.
- O que é um bom leitor? É um leitor que já leu muitos livros bons.
- Um escritor corajoso escreve sem pensar em ninguém. Se possível deverá mesmo, no limite, contrariar as suas próprias expectativas. Depois de o livro estar escrito, qualquer escritor gosta de ser lido.
G. M. Tavares

- … um livro é um serviço prestado aos outros.
M. S. Tavares

quinta-feira, setembro 22, 2005

Não sei olhar o céu, desconforta-me
Sei somente
Olhar a folha
Onde leio, onde escrevo
O meu mundo é este
Inscrito em páginas
Não sei nada do mundo de for a
Esse que dizem natural
Vivo de artifícios
Equívocos linguísticos
Céu nuvens árvores ?
Apenas palavras letras sons
Nem sequer ditos ao vento
Apenas retidos aqui
neste momento
não sei erguer os olhos
o horizonte amedronta-me
aqui estou segura
aqui sou segura.

Mesmo que queira erguer
Este imã a que chamo folha
Impele-me para baixo
Para os meus infernos
Para remoe-los, tentar compreende-los
O céu não traz o inferno
Promete o divino
Eu não quero promessas
Não quero possíveis infinitos
Só tenho o concreto aqui e agora
Esta folha que me recebe
Uma vez mais prende-me
O grilho protege do voo
Da queda da precipitação
Aqui fico aqui não caio
Permaneço inerte
Quieta muda despercebida
Do mundo, sem receio
Aqui fico bem
Quente protegida confortável
Uteramente bem.

Campeonato Nacional de Futebol

Ainda agora começou e já estou farta do campeonato nacional de futebol. E ainda dizem que o sexo masculino não gosta de novelas. Pois.
- Cerca de nove meses de duração
- Capítulos diários
- Enredos que não lembram a ninguém
- bons, maus, assim-assim
- Discretos, exibicionistas
- Ricos, menos ricos, remediados
- Intrigas e escândalos
Haja paciência para mais uma época.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Outono Na Sertã, L. Ralha

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- Não estava ainda à beira da loucura, mas já vivera momentos de maior estabilidade mental.
- (...) o teorema de Marques, segundo o qual o tempo que uma mulher demora a preparar-se corresponde à multiplicação de um factor entre 1,7 e 2,5 do número de minutos que anunciou.
- Foi a noite mais longa de todas as noites que lhes aconteceram.
- Conhecimentos inúteis seriam certamente os ossos da omnisciência.

Rapex

É um método desenvolvido por uma médica sul-africana com o objectivo – último – de prevenir violações. Em que é que consiste? É uma espécie de preservativo feminino cujo interior é guarnecido de pequenos espinhos que se prendem ao pénis, impossibilitando ao homem a continuação do acto sexual e que permanece “colado” ao mesmo quando este já não se encontra na vagina. Se esta é uma iniciativa louvável, há, no entanto, umas questões que tornam este método polémico.
1º não evita a violação. Só ao haver penetração é que o Rapex se “cola” ao pénis, logo não previne o acto. O que possibilita é a captura e posterior punição do perpetrador através de análises de DNA. Uma vez que só é possível a retirada do Rapex através de uma pequena cirurgia, o culpado terá sempre de se dirigir ao médico.
2ª muitos especialistas prevêem que a utilização do Rapex tenha uma consequência ainda mais violenta: um aumento do número de assassínio das vitimas. O violador ao ver frustrada a sua “façanha” poderá querer vingar-se da sua vítima através da violência física e provocar um maior número de mortes.
3º os homens podem ser vítimas da sua utilização indevida. Pode haver mulheres que utilizem o Rapex como uma ratoeira num acto perfeitamente normal de sexo consentido. Podem assim vingar-se dos seus companheiros ou exercer algum tipo de chantagem sobre eles, acusando-os de violação quando esta de facto não aconteceu.
4º para além da violência sexual e física inerente à utilização do Rapex existem ainda a violência psicológica. Ou seja, a mulher para o utilizar é porque acha que poderá ser violada. Já de si uma imensa crueldade.

terça-feira, setembro 20, 2005

Nana Caymmi

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É uma das mais belas vozes do mundo. Descubram-na...

Resposta ao Tempo
Batidas na porta da frente é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei
Um dia azul de verão, sinto o vento
Há folhas no meu coração é o tempo
Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, seu eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei
E gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro sozinhos
Respondo que ele aprisiona, eu liberto
Que ele adormece as paixões, eu desperto
E o tempo se rói com inve.........ja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver
No fundo é uma eterna criança que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer
No fundo é uma eterna criança que não soube amadurecer

Pelos cemitérios...

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Ao contrário do que se pensa, deambular por um cemitério não é nem mórbido nem terrível: é apenas deambular por um cemitério, como se deambula por um biblioteca e se observa capas e capas de livros com títulos cujo enredo desconhecemos. Campas com nomes e datas que não nos não qualquer informação sobre as pessoas que viveram aquelas vidas. São apenas vidas cuja última página foi encerrada naquele espaço. São apenas repositórios de experiências inutilizadas pela inacessibilidade.
Resta-nos observar o que fica à superfície. A dedicação ou não de quem fica a um espaço que apenas significa dor ou indiferença. São flores velhas e ressequidas nas campas. A maioria de plástico como se a perenidade do material mostrasse aos demais que o sentimento é mais ou menos sincero, mais ou menos verdadeiro, porque tem sempre um testemunho presente. Os entes queridos não vão ao cemitério por amor à pessoa que lá está. Vão por obrigação social. Porque um cemitério é apenas a recordação de que a viagem empreendida não tem regresso. O amor está no recordar constante dos sorrisos e das palavras a cada momento e em qualquer local. Esse amor de doçura e melancolia não necessita de idas regulares ao cemitério. Essa ideia de que na morte se pode ainda mostrar o significado das pessoas. As pessoas que importam continuam a ter significado, mas aqui, aqui no nosso coração e na nossa mente. É aí que continuam a viver todos os dias.
Deambular por um cemitério pode, no entanto, ser curioso. Observar os nomes diversos que se parecem cruzar e que tentamos conciliar na nossa mentes com árvores genealógicas improváveis, ou não tão improváveis assim. Encontrar em jazigos e mausoléus constatações de outras crenças. Observar homenagens singelas e sentidas e amiúde palavras ocas. Ver os reflexos da história, das histórias. Não, deambular por um cemitério não é mórbido é uma viagem de aprendizagem.
E podem não ter reparado, mas é dos poucos sítios onde ainda se ouve os pássaros a cantar.

sábado, setembro 17, 2005

Sim, eu sei...

Sim, eu sei... Ainda falta algum tempo para o Natal, e para o meu aniversário então nem se fala, mas apetece-me algo novo. Se alguém quiser abrir os cordões à bolsa está à vontade, estão aqui várias sugestões.

Inveja, Zuenir Ventura,
Jerusalém, Gonçalo M. Tavares
Jardim das Delícias, João Aguiar
A Dama e o Unicórnio, Tracy Chavalier
Os Melhores Momentos de Os Normais, Fernanda Young e Alexandre Machado,
A Casa Quieta, Rodrigo Guedes de Carvalho,
Crónica Feminina, Inês Pedrosa
Splaaash, Francisco Salgueiro
Longe de Manaus, Francisco José Viegas
E se Amanhã o Medo, Ondjaki
Pensatempos : Textos de Opinião, Mia Couto
O Canto da Sereia : Um Noir Baiano, Nelson Motta
O Livro dos Seres Imaginários, Jorge Luís Borges
Fronteiras perdidas, José Eduardo Agualusa
Encontros de Amor Num País em Guerra, Luís Sepúlveda
Budapeste, Chico Buarque
31 Canções, Nick Hornby
Breve História de Quase tudo, Bill Bryson

quinta-feira, setembro 15, 2005

Cruzeiro Seixas

Leva este cântaro,
Enche-o de água
Salgada,
Traz para este lago
Todo o tamanho do céu.

Leva, enche
E traz
Os olhos secos,
Com água pura
Escorrendo no musgo
Até formar um mar.

Leva este cântaro,
enche-o,
traz água
até submergir
esta paisagem.

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As Parcas deixaram de tecer

Nunca se sabe quando o fio da vida se rompe e deixa cair um corpo no vazio. Nunca se sabe quando o embate com a morte se dará. Muitas vezes ocorre cedo demais. De um modo demasiado cruel. Demasiado triste.
Ninguém esperava esta reviravolta do destino.
Em nós, fica um estranhamento e sempre, sempre a sensação de impotência. O que pensar, o que sentir, o que esperar.
Apenas palavras de apoio, apenas um ombro consolador, apenas um abraço. É tudo o que nos resta. É tudo o que nos é possível a quem fica.
Que a eternidade seja pacifica…

É sempre triste receber a notícia da morte de alguém com quem, apesar de não haver grande intimidade, se partilhou e testemunhou alguns momentos importantes.
No sábado, recebi uma destas notícias. Fiquei sem palavras e custou a assimilar. Porque às vezes vamos permitindo que se intercalem meses entre encontros, entre amizades. Depois, as notícias caem que nem uma bomba. Hoje, terça-feira, foi o dia da despedida. Um dia estranho, cansativo emocionalmente.
Como disse, não tinha uma relação muito profunda com o H., mas conhecia-o já há alguns anos. Namorou e casou com uma colega de trabalho e amiga. A última vez que o vi foi no seu casamento no Verão passado. Estava feliz. Revi as fotografias desse dia. Vistas agora parecem tão irreais, tão distantes no tempo e no espaço. Entretanto, estive já com a C., mas não com ele. Na minha cabeça parece que há somente esses dois momentos tão antípodas. A felicidade do dia do casamento e a tristeza do dia de hoje. Parece que entrei numa outra dimensão e dei um salto no tempo. É tão estranho…
H. que a tua alma encontre o descanso que merece…

quarta-feira, setembro 14, 2005

Your Blog Should Be Yellow

You're a cheerful, upbeat blogger who tends to make everyone laugh.
You are a great storyteller, and the first to post the latest funny link.
You're also friendly and welcoming to everyone who comments on your blog.

De Adolecentis

Um dos mais belos e interessantes textos sobre a adolescência:

O único mistério da vida é a adolescência. O nascimento é apenas um acontecimento, fácil de constatar e documentar, a morte, devido `qa ausência de consequências, é um não-acontecimento. A ideia de morte produz imensos efeitos, mas a morte, na realidade, não existe. Tem falta de um depois documentável, a velhice, sendo talvez uma coisa boa, é o que é. A idade adulta também. Isto é: também é velhice.
A infância, do ponto de vista do próprio, não é nada, porque o próprio não tem ponto de vista próprio. A infância são as mães. Uma coisa extraordinária mas que não chega a ser um assunto, porque é sempre bastante mais. A infância também serve às vezes para ser depois inventada.
A adolescência é o único mistério. Um rapaz já é um homem, mas ainda não sabe bem o que é, e isso é susceptível de gerar inúmeros equívocos, que por vezes viram contra o próprio ou contra os que o rodeiam. A violência adolescente aparece como uma espécie de cena de pancada em que o agressor e vítima são a mesma pessoa, se é que se lhe deve chamar pessoa. A adolescência é uma forma de fome. A comida disponibilizada pelos mais velhos não presta, e os adolescentes comem a sua própria carne, que por vezes se torna venenosa.
A melhor alternativa à violência são os espelhos, mas estes nem sempre funcionam do modo mais desejável. A descoberta do espelho é a maior descoberta da história da humanidade de cada homem. O rapaz passa a poder ser um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, uma legião de imagens de homens capazes de arrumar e usar o mundo à medida das suas vontades, fantasias e prazeres. Nos melhores casos, o sortilégio dos espelhos inspira imagens de sucesso, que são também uma promessa de sexo.
Mas é preciso ter muito cuidado com os espelhos, porque nunca se sabe exactamente qual a imagem que eles nos vão devolver. Uma descoincidência radical pode gerar uma decepção com consequências catastróficas.

… nunca saberemos nada sobre ninguém em estado de adolescência.


Alexandre Melo, in Actual

terça-feira, setembro 13, 2005

Weird?

You Are 50% Weird

Normal enough to know that you're weird...
But too damn weird to do anything about it!

Quero culpar-te!

Silenciosamente puseste-me fora da tua vida e eu sem perceber… o que te fez desligar a ligação. Afinal, foste tu que me procuraste.
Quero culpar-te e assim redimir-me da frustração da falha. Quero poder dizer que não fui eu que nos afastou. Mas também não fui eu que nos ligou. Mas eu nunca disse não, nem sequer me impus. Fui até demasiado compreensiva. Eu e a mania de entender os outros. E depois recalco o que realmente anseio. Omito os meus desejos.
Quero culpar-te: de criar em mim a esperança. Não, pior, quero culpar-te da minha culpa. A minha culpa de saber que só me davas migalhas e que eu insisti em receber e até mesmo em mendigar.
Mas chega um dia em que é necessário aceitar a nossa falha, a nossa culpa. Assumo-a agora.
Sinto-me pronta para fechar a porta. Já vai sendo mais que hora.
The moment is here…
Saio.

sábado, setembro 10, 2005

O Meu Padrão Cerebral

Your Brain's Pattern

Your mind is an incubator for good ideas, it just takes a while for them to develop.
But when you think of something, watch out!
Your thoughts tend to be huge, and they come on quickly - like an explosion.
You tend to be quiet around others, unless you're inspired by your next big idea.

Leituras deFDS

Mil folhas
O que morrerá comigo quando eu morrer?
Ana Teresa Pereira

A não ser que exista uma memória do universo, em cada morte desaparece uma coisa ou um número infinito de coisas.
J. L. Borges

É a questão da suposta trivialidade da pop oposta à suposta profundidade da cultura séria.
Luís Maio sobre Nick hornby

Actual
- Estou no congresso representando várias minorias nacionais. Sou meio índio, meio negro, meio japonês, meio homossexual e meio honesto.
- Pra saber como vai ser seu marido, encha uma bacia grande com água e deixe na rua durante toda a noite de São João. Se cair folha dentro da bacia vai ser moreno, se cair flor vai ser claro, se cair insecto vai ser militar e se cair homem mesmo leva pra casa, enxuga e fica com ele mesmo, uai.
L. F. Veríssimo

Um romance é um espelho que se passeia num longo caminho. Tão depressa reflecte aos nossos olhos o céu azul, como o lodo da berma.
Stendhal

GR
… milhares de anos de civilização apenas disfarçaram o abismo.
Barata-Feyo

sexta-feira, setembro 09, 2005

Katrina & The Waves

Este era o nome de um grupo pop dos anos oitenta cujo grande hit é “Walking on sunshine”, uma canção alegre e bem disposta. Mas nos dias que correm, o nome Katrina não significa, nem alegria, nem boa disposição, nem passeios despreocupados ao Sol. Katrina lembra sim o poder esmagador e impiedoso da natureza, que nem os grandes chefes de estado, nem ninguém pode prever nem controlar.
Já todos ouvimos as críticas à administração Bush sobre o modo como encarou este acidente natural. Já todos vimos as imagens de pessoas que perderam tudo o que possuíam, as pilhagens, o por vezes extremamente zelosa actuação da polícia, as imagens de refugiados, a destruição.
Poderia ter sido feito mais? Claro que podia. Depois das situações passarem e ao observar as consequências, é sempre fácil apontar erros e aspectos a melhorar. Mas o que nunca se pode subestimar é a capacidade da natureza subverter todas as medidas de segurança. O homem consegue contorna-la, mas não consegue controla-la.
Creio que o que mais choca os americanos é que desta vez a catástrofe não é cinematográfica, é real e aconteceu no quintal deles e não a milhas e milhas de distância, como, por exemplo, o maremoto. Aliás, os americanos lidam muito bem com tragédias à distância, mas no seu próprio espaço as emoções são muito mais complicadas de digerir.
E quando digo os americanos, digo todos os povos que não são assolados por fenómenos naturais. Se o mesmo acontecesse actualmente no nosso país, a verdade é que estaríamos ainda mais perdidos que os americanos. Nós não somos exactamente conhecidos pela nossa capacidade organizativa e de antevisão de possíveis desastres naturais. Talvez por isso cada Verão é um verão demasiado quente e assustador.
Depois, também é fácil colocar as culpas a essa figura de costas largas que é o governo. Já reparam como tudo é culpas dos governos, seja lá quais forem as cores no poder. Se não chove é culpa do governo. Se as pessoas não cuidam as suas próprias propriedades é culpa do governo. Se o mar se revolta é culpa do governo. Este poderá não ser isento de responsabilidades, pois cabe-lhe a ele criar medidas de prevenção, mas sou da opinião que todos nós temos responsabilidade. Cabe nos também a nós pensar e fazer a nossa quota parte. Temos de ser cidadãos responsáveis e só assim as nossas críticas serão válidas.
Claro que nós não evitaremos a ocorrências de novas catástrofes, mas podemos não construir, por exemplo, casas ilegais à beira praia, pensando somente na beleza da vista e sem qualquer preocupação de segurança.
Acredito que a natureza é uma busca constante de equilíbrio e se nós não contribuirmos para esse equilíbrio não podemos exigir que ela seja piedosa.

p. s. Monte Roraima

Pois é, eu que nunca tinha ouvido falar nesta região brasileira, consegui três vezes no mesmo dia. A última foi no Mil Folhas e dizia respeito à autoria do romance “Papillon” atribuída a Henri Charriére, mas que recentes declarações atribuem a René Belbenoît, um outro fugitivo da ilha do Diabo, que terá vivido no estado de Roraima.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Terminou...

O meu amor de Verão terminou. Tão inesperada e subtilmente como começou. Como qualquer amor de adolescência, apesar de já não o sermos. Amor de adolescência pela sua inocência, pelo seu diluir previsto. O verão termina e as prioridades retornam, apenas nós não nos tornámos uma prioridade.
Valeu a pena. Sim, valeu a pena. Conheci-me melhor, percebo melhor aquilo que quero e espero.
Tenho pena. Sim, tenho pena. Que a possibilidade não se tenha concretizado. Mas não há mágoas. Não pode haver. Não houveram quaisquer promessas a cumprir que fossem quebradas. Na ausência de palavras o futuro não era incerto, era apenas um silencioso anunciar do seu término.
Fica uma certa tristeza, uma certa melancolia no olhar e no coração. Um rasto que deixa qualquer oportunidade não cumprida. Mas o olhar visa sempre o horizonte e um novo devir.

JL#911

Entrevista com Zuenir Ventura
- (…) o ódio espuma, a preguiça se derrama, a gula engorda, a avareza acumula, a luxúria se oferece, o orgulho brilha. Só a inveja se esconde. Ciúme é querer manter aquilo que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha.
- (…) a inveja é um sentimento inconfessável que se caracteriza pela ausência de sintomas aparentes.
- (…) depressão, é uma forma detestável de narcissismo.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Um terço dos portugueses nunca vai ao cinema

Este era o título de uma notícia recentemente publicada num jornal nacional. Este título não me espanta. Afinal, cada vez menos é necessário ir ao cinema para se ver bom cinema. Com a profusão de canais por cabo dedicado à sétima arte, aos preços mais acessíveis praticados quer por estes, quer pelos clubes de vídeo, e sem esquecer o crescente fenómeno da pirataria, não é de admirar que cada vez menos pessoas se desloquem ao cinema e paguem um bilhete, que, por exemplo, eu acho caro. Até por uma grande maioria dos espectadores de cinema, não se limitam ao filme. É já tradição as pipocas, as bebidas. E, tendo em conta a conjuntura económica, ainda se torna menos em conta ir ao cinema. Mas como ou onde se vê cinema, não me parece o mais problemático, desde que se veja cinema e se tenha uma percepção analítica daquilo que se vê, o formato é indiferente.

Não é...

Não é a relação desejada, idealizada, porque quero mais. Quero alguma definição que me dê uma sensação de segurança. Sinto-me perdida entre o que tenho, e gosto, e o que idealizei e quero. Não sei se correrá bem e talvez seja essa incerteza que também me move e fascina, que me obriga a estar mais atenta e também me deixa ansiosa.
O que temos? Uma amizade colorida. Só que descobri que não tenho estofo emocional, maturidade sexual e sentimental para tal o que me deixa inquieta. O que parece um contra-senso, já que quando estamos juntos sinto exactamente uma calma e uma sensação de bem-estar deveras pacífica.
Mas tenho descoberto certas coisas em mim. E não sendo esta uma relação definitiva, cada vez mais o sinto, tem sido uma descoberta e tenho até alguma pena de não ser suficientemente paciente para esperar e aguardar algo mais, algo que cada vez mais tenho a certeza que não virá.

sábado, setembro 03, 2005

Monte Roraima

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O Monte Roraima é uma formação rochosa com um aspecto particular caracterizado pelas suas escarpas verticais que conferem um aspecto de inacessibilidade ao seu topo. Além da sua extrema beleza cénica, possui um ecossistema único. Este ecossistema foi no final do século 19 visitado pelo botânico inglês Everard Im Thum, cujos relatórios expedição foram publicados na National Geografic, e serviram de inspiração ao escritor Conan Doyle a escrever "O Mundo Perdido", publicado no início do século passado.
Quem assistiu à série que passou há uns meses na RTP1 com o mesmo título pode perceber como as características físicas do local ai observadas correspondem exactamente a este monte. Na ficção, uma expedição fica aprisionada num enorme planalto do qual não há saída aparente e que é povoado por uma fauna e flora típicos.
Agora, perguntarão vocês, porque estarei eu a falar deste local? Uma razão é óbvia: vi a série, ou pelo menos vários episódios, e nunca me tinha passado pela cabeça que a história poderia ter como base a descrição de um local real. E como é que eu soube da existência desse local? Hoje, passou na SIC, há hora do almoço, um documentário que acompanhava a carreira de David Attenborough. Sim aquele senhor que o Herman José homenageava no seu sketch do “The Human species is often found…” e do qual já todos nós vimos um documentário apresentado por ele. Ora bem, neste documentário Attenborough em conversa com Michael Pallin, mais conhecido do público como um Monthy Python, fala em como uma gravura deste local sempre lhe tinha suscitado uma enorme curiosidade ao logo de 40 anos e do seu prazer quando pode finalmente lá fazer um programa.
E depois há coincidências que nem o diabo explica, como se costuma dizer. Não é que chego ao trabalho e resolvo pesquisar na net um pouco sobre o local. Depois, vem o meu colega com os jornais do dia e não é que o suplemento Fugas do Público é exactamente dedicado ao Monte Roraima.
Quis partilhar com vocês o que aprendi hoje, mas se quiserem informações mais especificas sobre o local, basta irem ao google. Espero que gostem.

sexta-feira, setembro 02, 2005

o mundo de fora agride-me

o mundo de fora agride-me
não compreendo porque me magoa
porque insiste em magoar-me
que terei feito ou é o meu nada fazer
que ofende e assim me castiga

Quase esquecia…

O cheiro de homem
O cheiro a sexo
O sabor salgado a pele
A língua molhada
A tensão e a vontade
O alívio de chegar
O prazer
O calor
As pernas dormentes
As carícias nos meus seios
A boca a percorre-los
Os meus olhos a fecharem-se
Centrada somente em sentir
As mãos firmes
Sentir-me preenchida
Redescobrir
O abandono

quinta-feira, setembro 01, 2005

They Put Out Paradise to Build a Parking Lot

Neste momento, e já há alguns meses, em Agualva-Cacém, a minha terrinha, está a decorrer o programa Polis para recuperação e remodelação da cidade, que diga-se de passagem bem estava a precisar. O Cacém nunca foi um modelo de planeamento urbanístico e muitas coisas importantes como espaços verdes foram sempre deixadas não sei muito bem aonde.
Mas não vou falar exactamente do Polis. Vou falar antes dos sítios da minha infância que já desapareceram e somente um deles foi devido ao Polis.
Comecemos na minha própria rua onde o jardim infantil deu lugar a um pequeno parque de estacionamento. Para ir para o parque era só sair da porta do prédio e dar talvez uns dez passos. Escusado será dizer as horas de brincadeira da minha infância que ali passei. E as vezes que levei a minha sobrinha lá, não é? Mas alguém decidiu que aquele parque era uma ameaça à saúde pública. O que não era mentira de todo. Aliás a areia nunca era trocada, quando muito uma nova carrada era colocada em cima. E o chamado equipamento também já não obedecia aos actuais preceitos de higiene e segurança. My Godinho, como a minha mãe dizia: nem sei como é que os meus filhos se criaram sem estas mariquices, mas, enfim…
Depois foi a vez da minha escola primária se transformar igualmente num parque de estacionamento. Por isso cada vez que oiço aquela música dos Counting Crows “They put up Paradise to build a parking lot” para mim tem todo o sentido.
O último local da minha infância a ser demolido é agora uma das bases de sustentação do novo viaduto que vai servir de ligação à encosta de S. Marcos. Era a casa da patroa da minha mãe onde passei muitas tardes e aprendi muitas coisas. A Jú conversava muito comigo e além de me fazer roupas para as bonecas, ensinou-me também um pouco a costurar e as coisas básicas do crochet. Fazia-me sumo de cenoura e quando era a hora do lanche, apesar da minha mãe levar sempre o meu, ela punha sempre uma chávena para me servir também chá. Ela foi a minha verdadeira avó. Senti mais a sua morte que algumas pessoas supostamente mais chegadas. Por isso a Jú tem sempre um lugar no meu coração. A minha Jú…

Crónica de uma morte anunciada

Ontem foi o encerramento oficial de uma casa nocturna onde passei muitos e bons momentos, mas que há muito tinha deixado de ser o que era. Por isso também há muito que me tinha despedido dela.
Quando ontem me diziam: hoje é o fim de uma era; eu respondia: essa era já acabou à muito tempo. Ontem foi a penas o desligar da máquina de um doente há muito em morte cerebral e que apenas a carolice de muitos teimava em que continuasse viva. Mas a chama há muito que desapareceu. Extinguiu-se quase sem se dar por isso.
Não vou ter saudades. Eu também já não sou a mesma pessoa. As coisas mudam e nós também e também para nós as coisas deixam de ter sentido. Já não tinha sentido para mim. Vou sim é relembrar sempre os bons momentos passados. Foram muitos mesmo. Felizmente.