sexta-feira, março 31, 2006

Sabedorias


Vivemos por um triz, morre-se como chama que tropeça no súbito escuro.
Mia Couto

Toda a infância é um paraíso perdido para sempre.
Proust

Quando um mundo acaba, para o reparar,
só resta a ficção de um outro mundo.
Fernando Guerreiro

E a morte é a mais eficaz das mudanças, não é?
Rui Zink

o silêncio possível

Às vezes ando tão de um lado para o outro que não paro muito. Entre trabalho, afazeres domésticos, família e amigos, tudo tem sempre um pano de fundo sonoro. São raras as vezes em que me sento e interiorizo o silêncio possível. Ou o som mínimo.
Seja no campo ou na cidade, o silêncio é uma utopia não cumprida. Porque ao silêncio interior chega sempre o som exterior: carros em movimento, caixotes do lixo que se fecham, vizinhos que falam, crianças que brincam, campainhas que tocam, passos nas escadas acompanhados pelo plástico dos sacos de supermercado, elevadores, interruptores, aviões ocasionais, pássaros na árvores.
Hoje ouvi tudo isso no silêncio da minha casa.

quarta-feira, março 29, 2006

A Razão do Silêncio

Cheguei a um daqueles momentos de dúvida quanto à continuidade deste blog. Será que se justifica mantê-lo. Pelo menos nestes moldes. Ou será que apenas neste momento este não é o melhor suporte para a necessidade de me exprimir.
O período de reflexão mantém-se.
Os resultados serão publicados brevemente.

sexta-feira, março 17, 2006

Sabedorias

Sem cultura do pensamento não há sínteses próprias.
J. L. Pires
E quem conta as histórias de todos aqueles desconhecidos
que as rodas da engrenagem sonegaram à existência?
José Guardado Moreira
Todo o poema é circunstância de um tempo e de um lugar.
Jorge Reis-Sá
Nós somos o nosso corpo, não temos o nosso corpo.
Améry
Quem nunca soube viver no momento certo,
como há-de ele morrer no momento certo?
Nietsche

quarta-feira, março 15, 2006

Vinicius de Morais

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Quando mergulhaste na água
Não sentiste como é fria
Como é fria assim na noite
Como é fria, como é fria?

sentiste angústia, poeta
ou um espanto de alegria
ao sentires que bulia
um peixe nadando perto?
A tua carne não fremia
À ideia da dança inerte
Que teu corpo dançaria
No pélago submerso?

Época de Testes





sábado, março 11, 2006

De silêncio

Basta um silêncio, basta um som, mesmo que palavra não seja, para que em milésimos de tempo não palpáveis de tempo para que tudo se perca ou nada se alcance.
O que calas por medo, ignorância ou motivos outros, diz mais que o som proferido. Fere com a mesma intensidade que uma lâmina, pois a dor permanece e a lâmina sai.
O silêncio é a maior e mais complexa verdade de discernir. O silêncio inclui tudo o que a palavra apenas nomeia e limita no tempo e no espaço. O silêncio é um mundo aberto ao céu e tudo o que entre estes se contem.
O homem não percebe o silêncio. O seu poder libertador confunde-se com uma opressão inaudível. As suas possibilidades esbarram no limite da compreensão. O silêncio não tiraniza, mas o homem teme o seu império: a clarividência.

40 dias...40 Noites...

Jovem com imensa vontade de conhecer flores procura jovem interessado em botânica.

quarta-feira, março 08, 2006

Precisão, C. Lispector

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O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando,
confusos, a perfeição.