Gosto quando um livro/filme/música/quadro me leva a um filme/quadro/música/livro, sendo a ordem dos factores relativamente irrelevante.
Gosto que ao ver um filme como Mondigliani, assumidamente ficcional, me faça descobrir a veracidade por detrás da verosimilhança e assim rever os quadros de Picasso e de Mondigliani. Descobrir a existência de Utrillo e que Chaim Soutine não é só a personagem calmuca de um dos Contos Imprevistos de Roald Dahl. E para quem não conhece, foi este senhor que escreveu Charlie e a Fábrica de Chocolate que Burton adaptou ao cinema. Assim, chega-se a casa, pega-se na enciclopédia e ocupa-se mais uns bites na base de dados. E talvez seja agora a vez de descobrir Gertrud Stein e Jean Cocteau.
Gosto das invisíveis ligações que se tecem em tudo o que nos rodeia e apreendemos. Como quando ao ler H. Kunzru e Salman Rushdie constato o quão importante é a questão da identidade para um povo colonizado, uma questão próxima da realidade da nossa colonização e tantas vezes abordada por Agualusa. Somos o quê?
Pelo que apreendo a anglicidade e a lusofonia têm diferenças, ou talvez eu assim o sinta por não sentir o completo efeito da lusofonia, pois não é um conceito que me seja imposto. No entanto, sinto que a anglicidade de Dahl, Lodge, Kunzru e Rushdie são um conjunto de regras e convenções sociais quase intransponíveis.
A lusofonia, se é que são realmente conceitos paralelos ou até comparáveis, não o parece ser. Talvez seja devido ao nacional porreirismo.
Mas gosto de receber as linhas que se inscrevem nessas histórias e com elas tecer mas um pouco da minha malha de entendimentos.
Por isso, quando revistas e até iogurtes sugerem livros, não nego à partida um autor que desconheço. Nunca se sabe onde uma nova página nos levará.
P.s. E nem a propósito, entre escrever e postar este artigo comprei o livro Abril Despedaçado de Ismaíl Kandaré que serviu de base ao filme homónimo do brasileiro Walter Salles. Se a história é a mesma o cenário é bastante diferente.
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