Um dos meus maiores medos é que a existência da minha mãe se perca, que a minha memória dela se perca e assim se perca para sempre um registo da sua passagem pelo mundo.
Sento-me muitas vezes com a intenção de regista-la: as suas memórias, os seus anseios, as suas peculiaridades
Mas ao mesmo tempo receio. Receio que ao imutabiliza-la a perca, que ao recria-la ela deixe de ser minha, que ao partilha-la ela se escape. Sem retorno.
E se o que eu me lembro não transparecer? E se transparecer não ela, mas eu? E se de repente, descobrir a mulher, a mulher que eu teimo em ver somente como mãe. Nós filhos temos dificuldade em ver nos nossos pais pessoas independentes de nós. Tal como eles têm dificuldade em ver-nos como pessoas autónomas.
São talvez infundados estes receios, mas sei que a distorção será real. Vou perder e ganhar contornos novos. Não é o ganho tanto que receio, é a perda.
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