quinta-feira, novembro 04, 2004

Estação das Chuvas, Agualusa


“Quando morreu estava já tão desprovida de existência que foi necessário vestir-lhe as suas roupas mais concretas, perfumar-lhe o corpo todo, pintar-lhe com cores aflitas o cabelo e as unhas das mãos e dos pés para que se tornasse credível que em tempos fora pertença deste mundo.”
“… um profeta, para ser autêntico, precisa apenas de se sentir autêntico.”
“Lídia aceitava o amor de Alberto com alegria mas sem alvoroço.”
“O muito pouco que restou dele morreu dez anos depois.”
“As mulheres assim é sempre de repente que acontecem.”
“aquele nome era uma cicatriz de infância.”
“Não é uma mulher, é um pressentimento.”
“Eu já não acreditava em nada, mas sabia que não tinha o direito de contaminar os outros com a minha descrença.”
“O amor torna as pessoas ridículas. O ódio é um sentimento mais respeitável.”
“Quando o dólar manda até a merda anda.”
“Julgo que foi em Março. É quando o calor coincide com a água e esse excesso de energia transtorna a natureza. As flores ardem de febre e os animais de cio. Os crimes aumentam nos subúrbios.”
“O difícil, depois, era despir à verdade o manto de fantasia.”
“O medo. O verdadeiro medo, deixa-nos exaustos.”
“O heroísmo é apenas uma forma de estupidez, talvez a mais perigosa.”
“Não sou racista, mas também não sou daltónico.”
“Acho que é necessária uma certa inocência para que a maldade se manifeste nas suas formas mais exuberantes. (…) os grandes torturadores são quase sempre homens que não tiveram infância e por isso a exercem mais tarde.(…) só os inocentes são culpados.”
“A poesia era um destino irreparável, naquela época…”
“Não suporto o silêncio das árvores.”
“O exílio é onde em nada nos reconhecemos, o exílio é o silêncio hostil das coisas.”
“O meu avô ensinou-me a ser céptica. Sobretudo, ensinou-me a desconfiar dos iluminados, daqueles que conhecem os destinos do mundo. Dizia-me: “As asas acontecem tanto aos anjos, como aos demónios, como às galinhas. Por precaução, o melhor é tratar a todos como galinhas.”
“já reparaste que os melhores escritores angolanos são brancos ou mestiços, os melhores escritores sul-africanos são bóeres, os melhores escritores do mundo são judeus?
Há urgência naquilo que eles escrevem. Eles sofrem, estão doentes. Escrevem porque precisam de saber quem são.”
“Mais prático do que morrer é nunca ter existido.”Já não sei quem fui, quem sou. Já não sei o quanto de mim é, não a vida, mas aquilo que da vida em algum livro eu.Lidia do Carmo Ferreira

Sem comentários: