quinta-feira, setembro 22, 2005

Não sei olhar o céu, desconforta-me
Sei somente
Olhar a folha
Onde leio, onde escrevo
O meu mundo é este
Inscrito em páginas
Não sei nada do mundo de for a
Esse que dizem natural
Vivo de artifícios
Equívocos linguísticos
Céu nuvens árvores ?
Apenas palavras letras sons
Nem sequer ditos ao vento
Apenas retidos aqui
neste momento
não sei erguer os olhos
o horizonte amedronta-me
aqui estou segura
aqui sou segura.

Mesmo que queira erguer
Este imã a que chamo folha
Impele-me para baixo
Para os meus infernos
Para remoe-los, tentar compreende-los
O céu não traz o inferno
Promete o divino
Eu não quero promessas
Não quero possíveis infinitos
Só tenho o concreto aqui e agora
Esta folha que me recebe
Uma vez mais prende-me
O grilho protege do voo
Da queda da precipitação
Aqui fico aqui não caio
Permaneço inerte
Quieta muda despercebida
Do mundo, sem receio
Aqui fico bem
Quente protegida confortável
Uteramente bem.

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