sexta-feira, março 18, 2005

Uma Casa no fim do Mundo, M. Cunningham (II)

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Nunca cheguei a perceber se era uma questão de ética ou simples falta de imaginação. Por vezes as duas coisas estão tão intimamente ligadas que se tornam indistinguíveis.
Acabamos sempre por nos transformar nas histórias que contamos sobre nós próprios.
Somos criaturas adaptáveis. É essa a fonte do nosso conforto terreno e, suponho, da nossa raiva silenciosa.
A inesperada desvantagem da visa moderna é a nossa vitória sobre os nossos próprios destinos. Somos chamados a decidir sobre quase tudo e conhecemos minuciosamente as repercussões dos nossos actos.
Se bem que pensamos nos mortos como habitantes do passado, acredito agora que eles vivem num presente infinito.
As pessoas que vão muito ao cinema são geralmente capazes de apreciar a ironia de uma grande variedade de situações.
Julgo que, na extravagância da juventude, oferecemos os nossos afectos facilmente, na falsa convicção de que teremos sempre mais para dar.
… nenhum horizonte está verdadeiramente vazio.
…, mas os mortos são um assunto complicado. Aquilo que têm de mais notável é a sua constância.
Começo a compreender a verdadeira diferença entre a juventude e a idade adulta. Os jovens têm tempo para fazer planos e inventar novas ideias. As pessoas mais velhas têm de investir todas as energias na manutenção daquilo que já foi posto em acção.
As pessoas bem comportadas desconhecem a liberdade de se ser má rés.
… que os mortos nos pertencem ainda menos do que os vivos, que a nossa única hipótese de felicidade – uma hipótese bastante remota – reside na aceitação da mudança.
A minha limitação era a minha própria racionalidade. Eu era demasiado equilibrado, demasiado sensato.
Por vezes a obrigação transformava-se em afecto genuíno, em verdadeira preocupação.
Acho que estávamos à espera de que as nossas verdadeiras vidas começassem. Acho que provavelmente cometemos um erro.
Os simples factos da doença e da morte podem parecer-nos remotos desde que não sintamos o cheio da cal imaculada dos medicamentos. Desde que não vejamos um rosto assumir a cor do barro.
As nossas mentiras não afectam grandemente o mundo.
Existe beleza no mundo, embora seja mais austero do que imaginávamos.
…, eu compreendo que um lar é também um sítio ao qual escapar.
… o hiato entre aquilo que imaginamos e aquilo que podemos, de facto criar.

1 comentário:

Henrique Dória disse...

É curioso como a reflexão
que hoje colocaste na tua casa é semelhante à que coloquei também hoje num poema.Um abraço.