terça-feira, janeiro 25, 2005
Convite "As Pessoas Grandes São Mesmo Esquisitas"
A partir de uma adaptação do célebre conto "O Principezinho", de Antoine de Saint-Exupéry, criámos um pequeno "livro de viagens" que nos mostra como as pessoas grandes conseguem ser mesmo esquisitas, sem se aperceberem disso.
A nossa viagem começa com o regresso do Príncipe ao seu planeta, onde tinha deixado a Rosa sozinha, durante um ano inteirinho... e ela vai querer saber o que lhe aconteceu durante esse tempo todo!
Apesar de direccionado para um público mais infantil, é um espectáculo para todas as idades. Não temos todos uma criança sonhadora dentro de nós?
A estreia é no próximo domingo, 30, pelas 16 horas, no Salão da Igreja de Santa Maria de Agualva (sítio do costume).
Em Março (dias 13 e 20), estaremos no Auditório Municipal António Silva (Shopping Flores, Cacém), com sessões às 11h.
Ficha Técnica e Artística:
Encenação e Produção: Alexandra Amaro e Sandra Ferreira
Interpretação: Adelaide Bernardo, Alexandra Amaro, Ana Silva, Filipe Custódio, Nuno Quintão, Raquel Paz, Rute Palmeiro, Sandra Ferreira, Sara Pereira, Susana Ferreira
Contra-Regra (Staff): Susana Pereira
Coreografia: Alexandra Amaro
Cenografia: Rute Palmeiro, Susana Pereira
Figurinos: Adelaide Bernardo
Luminotecnia e Sonoplastia: Nuno Passadinhas, Pedro Pereirinha, Ricardo Simões
Fotografia: Nuno Passadinhas
sábado, janeiro 22, 2005
Eu também fui uma Buchholz’s browser
Percebo agora que faço parte de uma comunidade que deve muita da sua (in)formação a esta livraria situada no coração de Lisboa. Não fiz parte dos seus leitores mais duradouros, nem fiéis, nem mais investidores. A minha ligação à Buchholz durou quatro anos, os mesmos da minha licenciatura, e deveu-se, devo confessar, sobretudo à proximidade física da Universidade e da livraria. Afinal, era só subir a rua.
Mas alguns dos livros que lá descobri, alguns por obrigação, outros por gosto, fazem parte da minha formação e do meu imaginário: Wuthering Heights, Hawk Moon & Motel Chronicles, Paroles, Orfeu Rebelde… Foram vários.
A verdade é que gostava nas horas livres ou nos furos inesperados de deambular no seu tablado e percorrer as lombadas dos livros expostos. E, não dependesse eu monetariamente dos meus pais, teria feito grandes desfalques àquelas prateleiras. Mas, enfim, recordo esse período como sendo de uma grande descoberta e parte dela foi retirada dessa bela instituição denominada Buchholz. Obrigada!
Mas alguns dos livros que lá descobri, alguns por obrigação, outros por gosto, fazem parte da minha formação e do meu imaginário: Wuthering Heights, Hawk Moon & Motel Chronicles, Paroles, Orfeu Rebelde… Foram vários.
A verdade é que gostava nas horas livres ou nos furos inesperados de deambular no seu tablado e percorrer as lombadas dos livros expostos. E, não dependesse eu monetariamente dos meus pais, teria feito grandes desfalques àquelas prateleiras. Mas, enfim, recordo esse período como sendo de uma grande descoberta e parte dela foi retirada dessa bela instituição denominada Buchholz. Obrigada!
O Quinteto da Morte
Uma vez mais os irmãos Cohen demonstram o seu fascínio pelo sul norte-americano e as suas contradições: o sotaque, a simpatia, a coscuvilhice, o racismo. A isto mistura-se um pouco de Edgar Allen Poe: a sua ironia, a sua busca pelo crime perfeito, que se faz a partir de dentro e não deixa pistas, a justiça poética. Depois, junta-se um grupo de caricatas personagens lideradas por um excelente Tom Hanks, num impecável trabalho de composição. O resultado? Mais uma hilariante demonstração do trabalho dos irmãos Cohen, na linha do “Irmão, onde Estás?”
quinta-feira, janeiro 20, 2005
Esboço de Lucinda
O tempo é agreste como as pessoas. Não sei mesmo quem molda o quê. Sei apenas que aqui tudo é agreste. Sempre foi.
A terra não produz como precisamos e as mulheres da família são tão estéreis como este chão que piso. A terra dá-nos ervas daninhas e as mulheres desta família geram apenas mulheres. Seres que só servem para abrir as pernas e afogar as necessidades dos homens. Para manter uma casa quente e em ordem. Servir de dia e de noite.
Mal amanhadas, mal cultivadas, as terras e as mulheres da família submetem-se aos seus donos e vão sobrevivendo na aridez.
Tentei agarrar-me a esta terra. Compreendo-a. Nunca fomos compreendidas. Mas ela já não me segura. Compreendo-a. Como podemos gerar se os nossos rebentos nos são roubados. Roubam-nos os nossos filhos, ceifam a nossa vida. Tiraram-me a minha filha. Que sou má mãe. Nunca me deixaram ser. Roubaram-me tudo, a minha terra, a minha filha. Resta-me apenas voltar ao pó.
A terra não produz como precisamos e as mulheres da família são tão estéreis como este chão que piso. A terra dá-nos ervas daninhas e as mulheres desta família geram apenas mulheres. Seres que só servem para abrir as pernas e afogar as necessidades dos homens. Para manter uma casa quente e em ordem. Servir de dia e de noite.
Mal amanhadas, mal cultivadas, as terras e as mulheres da família submetem-se aos seus donos e vão sobrevivendo na aridez.
Tentei agarrar-me a esta terra. Compreendo-a. Nunca fomos compreendidas. Mas ela já não me segura. Compreendo-a. Como podemos gerar se os nossos rebentos nos são roubados. Roubam-nos os nossos filhos, ceifam a nossa vida. Tiraram-me a minha filha. Que sou má mãe. Nunca me deixaram ser. Roubaram-me tudo, a minha terra, a minha filha. Resta-me apenas voltar ao pó.
Música em 2004
|
"The night is full of holes Those bullets rip the sky Of ink with gold They twinkle as the boys play rock and roll" In 2004 you partied so hard... you forgot how to count. |
terça-feira, janeiro 18, 2005
OH, Diz-me a Verdade sobre o Amor, W. H. Auden
Alguns dizem que o amor é um rapazinho,
E outros dizem que é um pássaro,
Alguns dizem que faz girar o mundo,
E outros afirmam que é um absurdo,
E quando questionei o meu vizinho do lado,
Que tinha cara de entendido no assunto,
A mulher ficou bastante irritada,
E disse que ele não servia.
Será que se parece com um par de pijamas,
Ou com um presunto pendurado num hotel?
Será que o seu odor é parecido com o dos lamas,
Ou terá um cheiro reconfortante?
É espinhoso como uma sebe?
Ou suave como um ederdon fofo?
É afiado ou suave nas suas extremidades?
Oh, diz-me a verdade sobre o amor?
Os nossos livros de história referem-se a ele
Em pequenas notas criticas,
É um tópico bastante comum
Nos barcos transatlânticos;
Já encontrei o assunto mencionado
Em Relatos de suicídio
E até já o vi escrito
No verso de guias de comboios.
Será que uiva como um alsaciano esfomeado,
Ou soa como uma banda militar?
Pode-se fazer uma imitação de primeira categoria
Numa serra ou num Steinway Grand?
Será que o seu canto em festas parece um motim?
Será que só gosta de coisas clássicas?
Parará quando quisermos que esteja quieto?
Oh, diz-me a verdade sobre o amor?
Espreitei dentro de uma casa de verão,
Nunca lá tinha estado
Já experimentei o Tamisa em Maidenhead,
E no afluente de Brighton,
Não sei o que o melro cantou,
Ou o que a tulipa disse;
Mas não estava na capoeira,
Nem debaixo da cama.
Consegue fazer caretas extraordinárias?
Enjoa-se facilmente ao mínimo movimento?
Será que passa todo o seu tempo nas corridas?
Ou a tocar com peças de corda?
Terá opiniões próprias sobre o amor?
Terá patriotismo suficiente?
As suas histórias são vulgares mas engraçadas?
Oh, diz-me a verdade sobre o amor?
Quando vier, virá sem aviso,
Tal como estou a mexer no nariz?
Baterá à minha porta de manhã,
Ou pisar-me-á os pés no autocarro?
Virá como uma mudança no tempo?
O seu cumprimento será cortês ou rude?
Ou alterará a minha vida por completo?
Oh, diz-me a verdade sobre o amor?
E outros dizem que é um pássaro,
Alguns dizem que faz girar o mundo,
E outros afirmam que é um absurdo,
E quando questionei o meu vizinho do lado,
Que tinha cara de entendido no assunto,
A mulher ficou bastante irritada,
E disse que ele não servia.
Será que se parece com um par de pijamas,
Ou com um presunto pendurado num hotel?
Será que o seu odor é parecido com o dos lamas,
Ou terá um cheiro reconfortante?
É espinhoso como uma sebe?
Ou suave como um ederdon fofo?
É afiado ou suave nas suas extremidades?
Oh, diz-me a verdade sobre o amor?
Os nossos livros de história referem-se a ele
Em pequenas notas criticas,
É um tópico bastante comum
Nos barcos transatlânticos;
Já encontrei o assunto mencionado
Em Relatos de suicídio
E até já o vi escrito
No verso de guias de comboios.
Será que uiva como um alsaciano esfomeado,
Ou soa como uma banda militar?
Pode-se fazer uma imitação de primeira categoria
Numa serra ou num Steinway Grand?
Será que o seu canto em festas parece um motim?
Será que só gosta de coisas clássicas?
Parará quando quisermos que esteja quieto?
Oh, diz-me a verdade sobre o amor?
Espreitei dentro de uma casa de verão,
Nunca lá tinha estado
Já experimentei o Tamisa em Maidenhead,
E no afluente de Brighton,
Não sei o que o melro cantou,
Ou o que a tulipa disse;
Mas não estava na capoeira,
Nem debaixo da cama.
Consegue fazer caretas extraordinárias?
Enjoa-se facilmente ao mínimo movimento?
Será que passa todo o seu tempo nas corridas?
Ou a tocar com peças de corda?
Terá opiniões próprias sobre o amor?
Terá patriotismo suficiente?
As suas histórias são vulgares mas engraçadas?
Oh, diz-me a verdade sobre o amor?
Quando vier, virá sem aviso,
Tal como estou a mexer no nariz?
Baterá à minha porta de manhã,
Ou pisar-me-á os pés no autocarro?
Virá como uma mudança no tempo?
O seu cumprimento será cortês ou rude?
Ou alterará a minha vida por completo?
Oh, diz-me a verdade sobre o amor?
sábado, janeiro 15, 2005
Era uma Vez… Um Pai
Mais uma vez, Kevin Smith volta a juntar o seu gang para uma incursão cinematográfica. Desta feita, oferece-nos uma história mais tradicional, dentro dos cânones da comédia romântica, mas sem deixar de nos brindar com algumas pérolas do seu habitual humor cáustico.
No que diz respeito ao enredo propriamente dito, este fica muito aquém de outros Kevin Smiths. Um jovem publicitário de sucesso (Ben Affleck – e quem mais poderia ser?) vê a sua fulgurante carreira acabar de um momento para o outro após a morte da sua esposa ao dar à luz. Deste modo, vê-se obrigado a voltar à sua terra natal, New Jersey (o título original é Jersey Girl), e a voltar a viver com pai, que o ajudará a criar o rebento. Passados sete anos, vê-se confrontado com a escolha entre voltar à sua carreira de publicitário ou aceitar a vida simples que tem, mas de grande amor e cumplicidade familiar. Em linhas gerais, esta é a história e não se vislumbra nela grandes rasgos de originalidade, como, por exemplo, em Dogma, para mim o mais bem conseguido filme deste realizador.
Mas, mesmo assim, reconhecemos a sua criatividade em alguns diálogos absolutamente deliciosos, principalmente entre a personagem de Affleck e de Liv Taylor, uma empregada de clube de vídeo que despertará nele alguns sentimentos mais libidinosos e não só. Bem como a cena de participação dos membros do gang Jason Lee e Matt Damon, numa hilariante entrevista de emprego, e um diálogo com Will Smith.
No seu todo, é apenas razoável, salvando-se alguns excertos muito bem conseguidos. É o que dá Kevin Smith ter elevado a fasquia e agora não a ter conseguido superar. Seja como for, esperamos por mais.
XXX – Missão Radical
Desportos radicais e espionagem são o mote para este filme protagonizado por Vin Diesel, que de futuro muito dificilmente se desvinculará do cinema de acção. Sobretudo porque o seu físico a sua dicção, digamos monocórdica, não parecem muito adaptáveis a outros géneros.
Em termos de enredo, temos Xander (Diesel), um praticante de desportos radicais com algumas contravenções às costas que se vê obrigado por um agente do governo americano (Samuel L. Jackson) a participar numa missão de espionagem no Leste europeu. E lá vemos o nosso herói a rumar para terras geladas, a entrar no covil de uma máfia russa, a envolver-se com uma bela agente infiltrada (Ásia Argento), e a salvar o mundo de uma contaminação víral. Tudo coisas normais na vida de um herói.
É um filme de puro entretenimento, sem grandes novidades, na tradição de 007.
sexta-feira, janeiro 14, 2005
O Olhar de Sofia
Sofia olha pela janela. Os seus olhos permanecem sobre a sua desinteressante e velha rua. Há muito que já não acontece algo de novo naquele local. São sempre os mesmos prédios, as mesmas cores esbatidas, os mesmos rostos inócuos dos mesmos vizinhos anónimos, a mesma letra desaparecida do nome do café.
Sofia prende-se nos pormenores tristes. Os cães famélicos com olhares vagos e inconsequentes, que nem a morte procura através de um carro descuidado em maior velocidade. As manchas negras nas esquinas a que o vento leva o cheiro fétido - o mesmo que se concentra nas arcadas – batidas e escuras. O carro anteriormente vermelho abandonado - não se sabe se há meses ou anos - e em que a ferrugem vai vencendo a batalha da cor. Debaixo, uma plantação de ervas variadas, outrora sementes soltas ao vento que aqui encontraram o seu porto de abrigo, a sua prisão perpétua. Sementes rebeldes que se quedaram para descansar e ganharam parcas raízes.
Sofia observa o maltratado rosto do Sr. Zé. É difícil perceber o que mais o agrediu, se o tempo, se a bebida. É mesmo impossível dizer se esta serviu sequer para afogar alguma mágoa ou é simplesmente um mar que se vai enchendo copo a copo. As suas feições são quase imperceptíveis, é um esforço hercúleo tentar definir os seus traços.
Sofia prende-se nos pormenores tristes. Os cães famélicos com olhares vagos e inconsequentes, que nem a morte procura através de um carro descuidado em maior velocidade. As manchas negras nas esquinas a que o vento leva o cheiro fétido - o mesmo que se concentra nas arcadas – batidas e escuras. O carro anteriormente vermelho abandonado - não se sabe se há meses ou anos - e em que a ferrugem vai vencendo a batalha da cor. Debaixo, uma plantação de ervas variadas, outrora sementes soltas ao vento que aqui encontraram o seu porto de abrigo, a sua prisão perpétua. Sementes rebeldes que se quedaram para descansar e ganharam parcas raízes.
Sofia observa o maltratado rosto do Sr. Zé. É difícil perceber o que mais o agrediu, se o tempo, se a bebida. É mesmo impossível dizer se esta serviu sequer para afogar alguma mágoa ou é simplesmente um mar que se vai enchendo copo a copo. As suas feições são quase imperceptíveis, é um esforço hercúleo tentar definir os seus traços.
Amores Possíveis
Mais um resultado do recente cinema brasileiro, este filme conta-nos uma história, como o título indica, de amores possíveis. Tudo começa há 15 anos atrás, quando Carlos (Murilo Benicio) espera por Júlia (Carolina Ferraz) à porta do cinema. Volvidos esses anos, a vida pode levar imensos rumos. Talvez ela tenha aparecido, talvez não. Talvez tenham sido felizes, talvez não. 15 anos depois observamos três Carlos e três Júlias em três vidas diferentes, em três amores possíveis.
Para quem se lembra de “instantes Decisivos”, com a Gwyneth Paltrow, a ideia subjacente é semelhante, mas enquanto nesse as duas realidades apresentadas se dirigem para uma mesma resolução, aqui as realidades têm apenas um ponto inicial comum e finais diferentes.
É um interessante exercício sobre como a vida se pode desenrolar em várias direcções sem que qualquer uma delas seja propriamente errada. Apenas há que fazer escolhas e saber viver com elas.
quinta-feira, janeiro 13, 2005
A minha, a tua verdade
a minha, a tua verdade
o encontro
os (des)encontros
as separações
as nossas verdades
os nossos ódios
os nossos amores
as nossas frustrações
os medos, os receios.
o encontro
os (des)encontros
as separações
as nossas verdades
os nossos ódios
os nossos amores
as nossas frustrações
os medos, os receios.
quarta-feira, janeiro 12, 2005
Cândida
Cândida acredita que o mundo é como é. Aceita-o sem questionar os seus acontecimentos e as suas misérias. Deixa-se guiar pelos desígnios da Grande Mão e segue na vida recebendo as alegrias e as dores numa estóica aceitação do destino.
Destino. É o destino e não há nada a fazer! Só resta vivê-lo. Cândida vive-o dia a dia com um sorriso afável. Quem por ela passa, não vê o que o seu coração sofreu e ainda sofre com as angústias da vida.
Vinte anos de pancada aceites submissamente, com o choro calado e o corpo fragilizado. Cândida sobreviveu porque as coisas são assim e a natureza do homem não muda. Assim como não muda a natureza dos animais e das bestas.
Até a Grande Mão acabou por findar o castigo e levou o seu carrasco. Se para o céu ou para o inferno não sabe, porque não era mau, apenas tinha as suas coisas. E os homens são assim.
As feridas sararam por fora, pouco a pouco. Mas, por dentro, o seu corpo torturado durante anos começou a ceder. A ceder ao cansaço e ao alívio do medo. Foi baixando as suas defesas.
E pouco a pouco, a doença foi encontrado espaço para crescer, minando as células incautas que encontrou pelo caminho. Cândida foi perdendo as forças e o vigor já tão devastado e aceitou o ataque impiedoso da doença que não se compadece com quem não lhe dá luta.
E candidamente se foi…
Destino. É o destino e não há nada a fazer! Só resta vivê-lo. Cândida vive-o dia a dia com um sorriso afável. Quem por ela passa, não vê o que o seu coração sofreu e ainda sofre com as angústias da vida.
Vinte anos de pancada aceites submissamente, com o choro calado e o corpo fragilizado. Cândida sobreviveu porque as coisas são assim e a natureza do homem não muda. Assim como não muda a natureza dos animais e das bestas.
Até a Grande Mão acabou por findar o castigo e levou o seu carrasco. Se para o céu ou para o inferno não sabe, porque não era mau, apenas tinha as suas coisas. E os homens são assim.
As feridas sararam por fora, pouco a pouco. Mas, por dentro, o seu corpo torturado durante anos começou a ceder. A ceder ao cansaço e ao alívio do medo. Foi baixando as suas defesas.
E pouco a pouco, a doença foi encontrado espaço para crescer, minando as células incautas que encontrou pelo caminho. Cândida foi perdendo as forças e o vigor já tão devastado e aceitou o ataque impiedoso da doença que não se compadece com quem não lhe dá luta.
E candidamente se foi…
terça-feira, janeiro 11, 2005
Desabafo
Na verdade, sou uma miúda bastante insegura. E é esta insegurança que faz com que me considere ainda uma miúda. É uma insegurança que procuro combater, mas que ainda não consegui vencer. Será que, como se diz, consciencializar-me do facto é já um passo em frente?
Esta insegurança acontece quer a nível profissional, quer a nível pessoal. Se a nível profissional julgo que vou conseguindo contornar a questão, porque há tarefas a fazer e estas vão sendo feitas, a nível pessoal sinto-a ainda mais.
Muitas pessoas que me conhecem, não acreditarão nestas palavras. Porque o que vêem é uma máscara de auto-estima e independência que foi desenvolvida ao longo de vários anos. Mas, no fundo, esconde-se muita fragilidade. Fragilidade que raras vezes consigo verbalizar oralmente e somente em alguns momentos consigo pôr por escrito.
Não é fácil admitir que não somos aquilo que queremos ser. Como também não é fácil explicar como realmente somos, sem baixar defesas que foram sendo laboriosamente erguidas. Porque não somos tão fortes, porque somos carentes, porque somos tão pequeninos? E porque passamos tanto tempo e nos empenhamos demasiado em não o mostrar?
Podemos sempre dizer que somos fruto de uma cultura, de uma sociedade que nos impele a que sejamos algo ou alguém de importante, descurando sempre o pequeno e os bastidores. Talvez em parte até seja isso… porque criamos em nós uma imagem daquilo que gostaríamos de ser e nem sempre o conseguimos atingir.
Tinha vários sonhos que fui deixando pelo caminho e porquê? Simplesmente porque não soube lutar por eles, não soube procurar uma forma de os tornar reais, não soube ultrapassar os olhares de “tontices” que me eram dirigidos quando os dizia. Talvez alguns fossem mesmo tontices (talvez ganhar um Oscar seja um pouco complicado), mas ser crítica de cinema é um objectivo mais facilmente atingível, não é?
Então porque é que não lutei veementemente por ele e me acovardei diante desse sonho. Porque não confio nas minhas capacidades e paraliso diante de certas possibilidades? O que é que me impede de enviar para certos media algumas das minhas críticas. Porque tenho medo da recusa e tenho medo de não conseguir ser como gostaria de ser. Chego à conclusão de que tenho medo de não corresponder à imagem que criei.
Também a nível pessoal me acovardo. Durante muito tempo vivi essa insegurança, transformando-a numa culpa pertencente ao sexo oposto que era incapaz de compreender e ver as minhas potencialidades. Custou muito perceber que na verdade nunca dei grandes oportunidades a quem quer que fosse. Que na realidade a culpa não era do sexo oposto (se bem que alguns espécimes deixavam realmente muito a desejar). Mas na verdade, que culpa tinham eles de serem sempre comparados (sem o saberem, claro) à imagem que eu criei do que seria o meu príncipe encantado?
Só que as pessoas são reais. São de carne e osso e têm as suas qualidades e defeitos e tenho de aprender a apreciá-las só por isso, e não por nenhuma imagem que eu tenha criado. Isto é também admitir que estou muito longe de uma qualquer perfeição. Sou só uma miúda normal.
Mas estou a aprender a ver as pessoas por elas mesmo, principalmente uma pessoa em especial, e estou a gostar. E um destes dias terei a coragem suficiente para o dizer a quem de interesse.
Esta insegurança acontece quer a nível profissional, quer a nível pessoal. Se a nível profissional julgo que vou conseguindo contornar a questão, porque há tarefas a fazer e estas vão sendo feitas, a nível pessoal sinto-a ainda mais.
Muitas pessoas que me conhecem, não acreditarão nestas palavras. Porque o que vêem é uma máscara de auto-estima e independência que foi desenvolvida ao longo de vários anos. Mas, no fundo, esconde-se muita fragilidade. Fragilidade que raras vezes consigo verbalizar oralmente e somente em alguns momentos consigo pôr por escrito.
Não é fácil admitir que não somos aquilo que queremos ser. Como também não é fácil explicar como realmente somos, sem baixar defesas que foram sendo laboriosamente erguidas. Porque não somos tão fortes, porque somos carentes, porque somos tão pequeninos? E porque passamos tanto tempo e nos empenhamos demasiado em não o mostrar?
Podemos sempre dizer que somos fruto de uma cultura, de uma sociedade que nos impele a que sejamos algo ou alguém de importante, descurando sempre o pequeno e os bastidores. Talvez em parte até seja isso… porque criamos em nós uma imagem daquilo que gostaríamos de ser e nem sempre o conseguimos atingir.
Tinha vários sonhos que fui deixando pelo caminho e porquê? Simplesmente porque não soube lutar por eles, não soube procurar uma forma de os tornar reais, não soube ultrapassar os olhares de “tontices” que me eram dirigidos quando os dizia. Talvez alguns fossem mesmo tontices (talvez ganhar um Oscar seja um pouco complicado), mas ser crítica de cinema é um objectivo mais facilmente atingível, não é?
Então porque é que não lutei veementemente por ele e me acovardei diante desse sonho. Porque não confio nas minhas capacidades e paraliso diante de certas possibilidades? O que é que me impede de enviar para certos media algumas das minhas críticas. Porque tenho medo da recusa e tenho medo de não conseguir ser como gostaria de ser. Chego à conclusão de que tenho medo de não corresponder à imagem que criei.
Também a nível pessoal me acovardo. Durante muito tempo vivi essa insegurança, transformando-a numa culpa pertencente ao sexo oposto que era incapaz de compreender e ver as minhas potencialidades. Custou muito perceber que na verdade nunca dei grandes oportunidades a quem quer que fosse. Que na realidade a culpa não era do sexo oposto (se bem que alguns espécimes deixavam realmente muito a desejar). Mas na verdade, que culpa tinham eles de serem sempre comparados (sem o saberem, claro) à imagem que eu criei do que seria o meu príncipe encantado?
Só que as pessoas são reais. São de carne e osso e têm as suas qualidades e defeitos e tenho de aprender a apreciá-las só por isso, e não por nenhuma imagem que eu tenha criado. Isto é também admitir que estou muito longe de uma qualquer perfeição. Sou só uma miúda normal.
Mas estou a aprender a ver as pessoas por elas mesmo, principalmente uma pessoa em especial, e estou a gostar. E um destes dias terei a coragem suficiente para o dizer a quem de interesse.
sexta-feira, janeiro 07, 2005
So much older
I've grown older,
Older than I ever thought,
Older than the numbers that give away my age.
Old with no wrinkles to prove it.
It's all in the soul.
Wared out by events,
But mostly by me.
This old age in my shoulders,
Above all, in my eyes
Whose bright has gone.
Hidden in dreams
Gone every morning,
Awaken to every sunshine
But absent from its warmth.
I've grown older
So much older than I hoped for.
Sitting in a corner
Watching these same walls
And no will to carry on,
To fight for.
I've grown so much older
Than I'll ever be
My body won't catch up my rovering soul.
Waste in this youth I carry outside.
What made me grow so old?
Why can't time go back,
To the youth I felt inside,
To the happiness I lived,
To the paradise I was in?
Why, my youth, have you grown so much older?
27/01/03
Older than I ever thought,
Older than the numbers that give away my age.
Old with no wrinkles to prove it.
It's all in the soul.
Wared out by events,
But mostly by me.
This old age in my shoulders,
Above all, in my eyes
Whose bright has gone.
Hidden in dreams
Gone every morning,
Awaken to every sunshine
But absent from its warmth.
I've grown older
So much older than I hoped for.
Sitting in a corner
Watching these same walls
And no will to carry on,
To fight for.
I've grown so much older
Than I'll ever be
My body won't catch up my rovering soul.
Waste in this youth I carry outside.
What made me grow so old?
Why can't time go back,
To the youth I felt inside,
To the happiness I lived,
To the paradise I was in?
Why, my youth, have you grown so much older?
27/01/03
Sou uma Estrela
You Are From the Sun |
Of all your friends, you're the shining star. You're dramatic - loving attention and the spotlight. You're a totally entertainer and the life of the party. Watch out! The Sun can be stubborn, demanding, and flirty. Overall, you're a great leader and great friend. The very best! |
quinta-feira, janeiro 06, 2005
Nunca um beijo
O meu sonho dói no acordar
na ausência de ti
sinto o amargo
da ilusão desfeita.
Nunca houve um beijo
nunca uma troca de olhares
nunca o teu calor me teve
foram segundos de ti
que se escaparam no raiar do sol.
Na noite te tive
no dia te perdi.
fica a lembrança
de um beijo doce
desejado que me deste,
somente um sentir ausente
baixo os olhos em pesar
por mais uma ilusão sentida.
na ausência de ti
sinto o amargo
da ilusão desfeita.
Nunca houve um beijo
nunca uma troca de olhares
nunca o teu calor me teve
foram segundos de ti
que se escaparam no raiar do sol.
Na noite te tive
no dia te perdi.
fica a lembrança
de um beijo doce
desejado que me deste,
somente um sentir ausente
baixo os olhos em pesar
por mais uma ilusão sentida.
Daughter, P. Jam
You guys ready...
Alone... listless... breakfast table in an otherwise empty room
Young girl... violins... center of her own attention
The, mother reads aloud, child, tries to understand it
Tries to make her proud
The shades go down, it's in her head
Painted room... can't deny there's something wrong...
Don't call me daughter, not fit to
The picture kept will remind me
Don't call me daughter, not fit to
The picture kept will remind me
Don't call me...
She holds the hand that holds her down
She will...rise above...ooh...oh...
Don't call me daughter, not fit to
The picture kept will remind me
Don't call me daughter, not fit to be
The picture kept will remind me
Don't call me...The shades go down
The shades go, go, go...
Alone... listless... breakfast table in an otherwise empty room
Young girl... violins... center of her own attention
The, mother reads aloud, child, tries to understand it
Tries to make her proud
The shades go down, it's in her head
Painted room... can't deny there's something wrong...
Don't call me daughter, not fit to
The picture kept will remind me
Don't call me daughter, not fit to
The picture kept will remind me
Don't call me...
She holds the hand that holds her down
She will...rise above...ooh...oh...
Don't call me daughter, not fit to
The picture kept will remind me
Don't call me daughter, not fit to be
The picture kept will remind me
Don't call me...The shades go down
The shades go, go, go...
quarta-feira, janeiro 05, 2005
Indagação
Nas sombras da minha mente tecem-se histórias atrás das quais me evado. Saio daqui e sigo na peugada dessas personagens. Sigo-as, escondida, e passo despercebida. Desconfiarão elas que são apenas inventadas?
Ou iludo-me julgando-me real?
Ou iludo-me julgando-me real?
Resoluções de Ano Novo?
É normal nesta altura dos acontecimentos fazerem-se avaliações do que correu bem e menos bem durante o ano. É também hábito tecer-se uma lista de resoluções de ano novo com o objectivo de se evitarem erros antigos e mudar aspectos menos apetecíveis na nossa vida.
Pois bem, há já uns poucos de anos que me deixei de fazer essa lista, seja ela composta de intenções prosaicas, como deixar de roer as unhas, ou resoluções mais complexas, simplesmente porque não é uma passagem de ano que vai alterar nada.
As mudanças de comportamento e de atitude existem quando se tornam imperiosas ou quando já a postura anterior já não faz sentido. E nós mudamos quando a vida nos obriga a isso.
Já sei de antemão que a minha vida vai ter bastantes mudanças ao longo deste ano. A começar pelo facto de que saírei do trabalho onde estou a partir de Julho. Depois é claro que mudará muita coisa. Mudará o trabalho, mudarão os colegas, mudarão os horários, terão de ser feitos outros ajustes.
É claro que gostaria que acontecessem várias coisas este ano que não aconteceram no ano passado. Coisas que gostaria de ter feito e não fiz. Como aquela ida ao Fantas ou aquele beijo que não roubei, e talvez já seja tarde demais para o fazer, ou até que as minhas inseguranças fossem dar uma volta.
Mas o que tiver de acontecer, acontecerá, por isso vamos lá viver a vida a cada momento. E se não acontecer tudo que queríamos, que saibamos pelo menos aproveitar o que for acontecendo.
Pois bem, há já uns poucos de anos que me deixei de fazer essa lista, seja ela composta de intenções prosaicas, como deixar de roer as unhas, ou resoluções mais complexas, simplesmente porque não é uma passagem de ano que vai alterar nada.
As mudanças de comportamento e de atitude existem quando se tornam imperiosas ou quando já a postura anterior já não faz sentido. E nós mudamos quando a vida nos obriga a isso.
Já sei de antemão que a minha vida vai ter bastantes mudanças ao longo deste ano. A começar pelo facto de que saírei do trabalho onde estou a partir de Julho. Depois é claro que mudará muita coisa. Mudará o trabalho, mudarão os colegas, mudarão os horários, terão de ser feitos outros ajustes.
É claro que gostaria que acontecessem várias coisas este ano que não aconteceram no ano passado. Coisas que gostaria de ter feito e não fiz. Como aquela ida ao Fantas ou aquele beijo que não roubei, e talvez já seja tarde demais para o fazer, ou até que as minhas inseguranças fossem dar uma volta.
Mas o que tiver de acontecer, acontecerá, por isso vamos lá viver a vida a cada momento. E se não acontecer tudo que queríamos, que saibamos pelo menos aproveitar o que for acontecendo.
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