sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Tirei a minha pele

Há coisas que lemos e nos impelem a nossa imaginação em frente, indagando outras realidades para aquelas palavras, outros sentimentos escondidos em camadas subtis.
E há outras que nos lembram coisas já escritas. Foi o caso desta do Agualusa
que me lembrou outra escrita por mim há algum tempo e diz assim:

Tirei a minha pele
aquela que conheces
e julgas ser eu
despi-a inteiramente.

Tem um aspecto translúcido
Dai o teu engano
Ao julgares conhecer-me
Tão profundamente.

Não, não foi embuste
Apenas má visão.
Translúcido não é transparente,
Nem o será jamais.

Deixei-a primeiro ao Deus dará
Depois, e por respeito,
Por ti e pelo que nela vivi
resolvi arruma-la.

Dobrei cuidadosamente
Juntei cada ponta cada saliência
Ficou bem guardada
na segunda gaveta da cómoda.

Agora, podes pegar nela.
Se e quando quiseres.
Podes até cheirar
Se algum aroma restou.

Só não restei eu
Que saí e agora algures
Visto outra pele.
Outro engano, certamente.
29/01/03

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