terça-feira, agosto 02, 2005

O Fio das Missangas, M. Couto

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- Ardores querem-se aplacados, amores querem-se deitados.
- (…) o homem estava caindo? Aquele gerúndio era um desmando nas graves leis da gravidade: quem cai, já caiu.
- Onde nada se passa, tudo pode acontecer.
- Antes eu não tinha hora. Agora perdi o tempo.
- Onde eu vivo não é na sombra. É por detrás do sol, onde toda a luz há muito se pôs.
- Ensinaram-me tanta vergonha em sentir prazer, que acabei sentido prazer em ter vergonha.
- (…) falar é fácil. Custa é aprender a calar.
- Verdade é luxo de rico. A nós, menores de existência, resta-nos a mentira.
- Era lá que eu sonhava. Não sonhava ser feliz, que isso era demasiado para mim. Sonhava para me sentir longínqua, distante até do meu cheiro.
- Toda a vida acreditei: amor é dois se duplicarem em um. Mas hoje sinto: ser um é ainda muito. De mais. Ambiciono, sim, ser o múltiplo de nada. Ninguém no plural. Ninguéns.
- (…) nem todo o bicho é um animal.
- não sou velho, é verdade. Mas fui ganhando muitas velhices.
- (…) esplendoroso é o que sucede, não o que se espera.
- A lágrima lava a sofrência.
- A aranha ateia diz ao aranho na teia: o nosso amor está por um fio!
- Minha sabedoria é ignorar minhas originais certezas.
- Não existe terra, existem mares que estão vazios.
- O pulo é o desajeito humano de ensaiar um voo.
- De que vale acordar se o que vivo é menos do que o que sonhei?
- A aldeia, quanto mais pequena, mais carece de um louco. Como se por via desse louco se salvassem, os restantes, da loucura.

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