Por vezes, antes de dormir, penso na minha vida sob vários aspectos: o que desejo, o que tenho, o que necessito, o que de mim esperam, e vou conjugando todas estas perspectivas até que chego a sábias conclusões e decisões. Depois o sono chega e ao longo da noite invadem-se imagens várias que me intrigam e distraem e me levam a lugares e realidades imaginárias. E é no meio desta azáfama virtual que a manhã me encontra e me desperta para os afazeres do quotidiano.
E quando tento trazer à memória a agitação da noite, não consigo. Vislumbro apenas reminiscências esfumadas da noite que por mim passou. Não consigo aceder às conclusões e decisões tão sabiamente atingidas, nem às imagens que me povoaram a mente. De quando em quando parece que encontro o fio da meada, mas é apenas mesmo um pequenino fio, nada mais. Nada mais.
sexta-feira, outubro 27, 2006
quinta-feira, outubro 26, 2006
O Perfume, P. Suskind
- Tinha horror aos pormenores técnicos, porque os pormenores significavam sempre dificuldades e as dificuldades significavam sempre uma perturbação da sua tranquilidade de espírito, o que lhe era impossível suportar.
- Apenas escolhera a vida por uma questão de desafio e pura malvadez.
- … o espírito do que havia sido, liberto dos importunes atributos da presença…
- Conhecia no máximo raríssimos estados de um morno contentamento.
- A infelicidade de um homem resulta em não querer manter-se tranquilamente no seu quarto, onde pertence.
- … passara a vida a renunciar, ao passo que nunca havia possuído e perdido depois.
- Apenas escolhera a vida por uma questão de desafio e pura malvadez.
- … o espírito do que havia sido, liberto dos importunes atributos da presença…
- Conhecia no máximo raríssimos estados de um morno contentamento.
- A infelicidade de um homem resulta em não querer manter-se tranquilamente no seu quarto, onde pertence.
- … passara a vida a renunciar, ao passo que nunca havia possuído e perdido depois.
Dicionário
Bergamota - do Turc. begarmudy, pêra do senhor, s. f., Bot., planta labiada odorífera; espécie de pêra de muito e delicado sumo; variedade de limoeiro de cujo fruto se extrai a essência do mesmo nome, com aplicação em perfumaria.
Lábdano - do Ing. Labdanum, s. m., produto resinoso de algumas plantas, em especial da esteva-de-creta; ládano.
Decocção - do Lat. Decoctione, s. f., operação que consiste em extrair os princípios activos de uma substância vegetal por contacto mais ou menos prolongado com um líquido em ebulição; cozimento.
Estoraque - do Lat. styrace < Gr. Stýrax, s. m., bálsamo; resina odorífera produzida pelo estoraque; Bot., arbusto da família das estiráceas que produz aquela resina; benjoeiro; Beira, boémio; estoira-vergas.
Lábdano - do Ing. Labdanum, s. m., produto resinoso de algumas plantas, em especial da esteva-de-creta; ládano.
Decocção - do Lat. Decoctione, s. f., operação que consiste em extrair os princípios activos de uma substância vegetal por contacto mais ou menos prolongado com um líquido em ebulição; cozimento.
Estoraque - do Lat. styrace < Gr. Stýrax, s. m., bálsamo; resina odorífera produzida pelo estoraque; Bot., arbusto da família das estiráceas que produz aquela resina; benjoeiro; Beira, boémio; estoira-vergas.
terça-feira, outubro 24, 2006
A Poeira que cai sobre a terra, F. J. Viegas
- … gostava de promessa, questões de fé - era coisa de céptico.
- Um homem vive com pouco quando não vive de nada.
- Homens solitários não aprendem novos caminhos…
- Males de amor não me interessam … o amor é um incómodo.
- Sentimentalismo é fácil de mais, banal demais. Versos. Palavras com efeitos certos, com sentidos muito parecidos ao seu contrario.
- … a primeira inutilidade a ser destruída, o amor.
- A primeira vez que ele enfrentara a morte aconteceu numa manhã em que se olhou ao espelho e percebeu que tinha quarenta e cinco anos e compreendeu que metade da sua vida tinha sido gasta, desperdiçada ou apenas vivida.
- … aprendera que as grandes histórias de amor terminam com o frio da morte, terminam no frio da morte. E que, muito frequentemente, o amor leva à morte…
- A delicadeza da vida abandonada incomodava-o. aquela delicadeza.
- E há casas, porque as casas são fundamentais numa história.
- … as explicações são um luxo inacessível muitas vezes, uma contrariedade para toda a vida.
- Um homem vive com pouco quando não vive de nada.
- Homens solitários não aprendem novos caminhos…
- Males de amor não me interessam … o amor é um incómodo.
- Sentimentalismo é fácil de mais, banal demais. Versos. Palavras com efeitos certos, com sentidos muito parecidos ao seu contrario.
- … a primeira inutilidade a ser destruída, o amor.
- A primeira vez que ele enfrentara a morte aconteceu numa manhã em que se olhou ao espelho e percebeu que tinha quarenta e cinco anos e compreendeu que metade da sua vida tinha sido gasta, desperdiçada ou apenas vivida.
- … aprendera que as grandes histórias de amor terminam com o frio da morte, terminam no frio da morte. E que, muito frequentemente, o amor leva à morte…
- A delicadeza da vida abandonada incomodava-o. aquela delicadeza.
- E há casas, porque as casas são fundamentais numa história.
- … as explicações são um luxo inacessível muitas vezes, uma contrariedade para toda a vida.
sábado, outubro 21, 2006
De Abril Despedaçado
Este título significa para mim a descoberta de uma nova realidade, um novo mundo que não tinha noção que pudesse existir. Uma realidade que me parecia longínqua no tempo, mas que se me revelou ainda viva.
Escrito em 1974 por Ismail Kadaré, Abril Despedaçado transporta-nos para os áridos planaltos albaneses onde impera o kanun, uma lei consuetudinária com origem em tempos imemoriais, e caracterizada pelo fatalismo e pela impossibilidade de fuga. Em 2002 o realizador brasileiro Walter Salles adaptou esta história de fatalidade ao cinema, transpondo a acção para o recôndito e igualmente árido interior brasileiro. E se o cenário não é o mesmo, o que provoca adaptações ao enredo, no entanto, este mantêm a sua essência inalterada.
Em ambos, o drama humano é tratado com extrema delicadeza e subtileza, mostrando o vazio e a falta de perspectivas a que as personagens estão votadas. A incapacidade de lutar contra o peso da tradição que é tão opressiva quanto o horizonte árido que as rodeia, no qual a vida parece sempre condenada e onde a morte é um dado sempre presente e visível.
O kanun, que dá um aparente livre arbítrio aos homens, encontra apenas uma ligeira fuga, ou antes, um breve adiar da sua sentença pelo amor. Deste modo o papel da mulher apresenta-se como redentor, sendo ela a única figura capaz de desafiar a velada e imposta autoridade, pois devido à sua aparente fragilidade está fora do alcance do kanun, mas como é igualmente observadora exterior e vitima, é a única capaz de o questionar.
Escrito em 1974 por Ismail Kadaré, Abril Despedaçado transporta-nos para os áridos planaltos albaneses onde impera o kanun, uma lei consuetudinária com origem em tempos imemoriais, e caracterizada pelo fatalismo e pela impossibilidade de fuga. Em 2002 o realizador brasileiro Walter Salles adaptou esta história de fatalidade ao cinema, transpondo a acção para o recôndito e igualmente árido interior brasileiro. E se o cenário não é o mesmo, o que provoca adaptações ao enredo, no entanto, este mantêm a sua essência inalterada.
Em ambos, o drama humano é tratado com extrema delicadeza e subtileza, mostrando o vazio e a falta de perspectivas a que as personagens estão votadas. A incapacidade de lutar contra o peso da tradição que é tão opressiva quanto o horizonte árido que as rodeia, no qual a vida parece sempre condenada e onde a morte é um dado sempre presente e visível.
O kanun, que dá um aparente livre arbítrio aos homens, encontra apenas uma ligeira fuga, ou antes, um breve adiar da sua sentença pelo amor. Deste modo o papel da mulher apresenta-se como redentor, sendo ela a única figura capaz de desafiar a velada e imposta autoridade, pois devido à sua aparente fragilidade está fora do alcance do kanun, mas como é igualmente observadora exterior e vitima, é a única capaz de o questionar.
sexta-feira, outubro 20, 2006
Exercício
I
O plangente estado do fiacre, que outrora assemelhava um luxuoso escrínio, provocou em todos uma reacção gemebunda.II
quinta-feira, outubro 19, 2006
Relato tardio de férias
Este ano um dos programas de férias incluiu uma ida ao Porto, uma cidade que não conhecia. Vi muitas coisas, mas muitas mais ainda ficaram por ver. A viagem valeu em muito pelos quarto dias completamente fora da rotina e apercebi-me do quanto essas pausas ocasionais são necessárias para restabelecer forças e serenar os ânimos.
Depois foram vários fins-de-semana na santa terrinha, em que nem tudo foram rosas e em que infelizmente não aproveitei o que gostaria. Às vezes bem penso que tenho de pensar mais em mim, mas acabo sempre por estabelecer outras prioridades.
Uma outra pausa igualmente necessária foi o concerto dos Simply Red, cuja música para mim é autêntica musicoterapia. Acho é que precisava de mais uns quantos durante o ano. Talvez a carteira é que não gostasse muito…
Os dias que fiquei em casa só me apeteceu molengar, molengar, molengar e o mínimo toque do telemóvel só me dava vontade de o mandar contra a parede e a outra pessoa dar uma volta.
Agora retomaram os afazeres, os encontros, a algazarra, os compromissos. Espero que este ano, que animicamente esteve bem longe de ser dos melhores, acabe bem melhor do que começou, porque apesar de me sentir bem melhor, afinal o sol é para isso que serve, ainda me sinto bastante periclitante e relativamente instável.
Depois foram vários fins-de-semana na santa terrinha, em que nem tudo foram rosas e em que infelizmente não aproveitei o que gostaria. Às vezes bem penso que tenho de pensar mais em mim, mas acabo sempre por estabelecer outras prioridades.
Uma outra pausa igualmente necessária foi o concerto dos Simply Red, cuja música para mim é autêntica musicoterapia. Acho é que precisava de mais uns quantos durante o ano. Talvez a carteira é que não gostasse muito…
Os dias que fiquei em casa só me apeteceu molengar, molengar, molengar e o mínimo toque do telemóvel só me dava vontade de o mandar contra a parede e a outra pessoa dar uma volta.
Agora retomaram os afazeres, os encontros, a algazarra, os compromissos. Espero que este ano, que animicamente esteve bem longe de ser dos melhores, acabe bem melhor do que começou, porque apesar de me sentir bem melhor, afinal o sol é para isso que serve, ainda me sinto bastante periclitante e relativamente instável.
sexta-feira, outubro 13, 2006
Abril Despedaçado, I. Kadaré
- … todo aquele edifício de morte, era ele quem o tinha erigido.
- Estamos a aproximar-nos da zona obscura, da zona onde as regras da morte se situam antes das regras da vida.
- Há gente idiota, mas não existe um estado estúpido. Se o estado faz de conta que não vê o que se passa, é porque sabe muito bem que a sua máquina judiciária ia emperrar ao primeiro confronto com o antigo código.
- Como todas as coisas grandiosas, o kanun está para além do bem e do mal.
- É simultaneamente absurdo e fatal, como todas as coisas grandiosas.
- De algumas pancadas batidas a uma porta pode depender a sobrevivência ou a extinção de gerações inteiras.
- … os vivos não passam de mortos de passagem por esta vida…
- a pouco e pouco, o espírito enchia-se de uma nebulosidade acinzentada. Qualquer coisa mais do que nevoeiro mas menos do que pensamento. Qualquer coisa de intermédio, opaco, extensível e lacunar. Mal uma zona do seu cérebro se descobria, logo outra se encobria.
- E sentiu que aquela era uma pergunta que podia preencher toda uma existência humana.
- Estamos a aproximar-nos da zona obscura, da zona onde as regras da morte se situam antes das regras da vida.
- Há gente idiota, mas não existe um estado estúpido. Se o estado faz de conta que não vê o que se passa, é porque sabe muito bem que a sua máquina judiciária ia emperrar ao primeiro confronto com o antigo código.
- Como todas as coisas grandiosas, o kanun está para além do bem e do mal.
- É simultaneamente absurdo e fatal, como todas as coisas grandiosas.
- De algumas pancadas batidas a uma porta pode depender a sobrevivência ou a extinção de gerações inteiras.
- … os vivos não passam de mortos de passagem por esta vida…
- a pouco e pouco, o espírito enchia-se de uma nebulosidade acinzentada. Qualquer coisa mais do que nevoeiro mas menos do que pensamento. Qualquer coisa de intermédio, opaco, extensível e lacunar. Mal uma zona do seu cérebro se descobria, logo outra se encobria.
- E sentiu que aquela era uma pergunta que podia preencher toda uma existência humana.
quinta-feira, outubro 12, 2006
Dicionário
Plangente - do Lat. Plangente; adj. 2 gén., que chora; triste; lamentoso; lastimoso.
Fiacre - do Fr. fiacre < (Saint) Fiacre, s. m., trem de aluguer.
Escrínio - Lat. Scriniu, s. m., escrivaninha; cofre pequeno; guarda-jóias; estojo.
Gemebundo - do Lat. Gemebundu, adj., que geme; gemedor.
Fiacre - do Fr. fiacre < (Saint) Fiacre, s. m., trem de aluguer.
Escrínio - Lat. Scriniu, s. m., escrivaninha; cofre pequeno; guarda-jóias; estojo.
Gemebundo - do Lat. Gemebundu, adj., que geme; gemedor.
terça-feira, outubro 10, 2006
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