quarta-feira, abril 28, 2004

A Paixão de Cristo

É um filme controverso pela sua temática e pela abordagem feita, mas seria-o sempre qualquer que fosse a sua forma de retratar os últimos dias da vida de Cristo.
Ao centrar o seu filme nas últimas horas da vida de Cristo, período a que a tradição católica denomina de Paixão, Mel Gibson, um fervoroso católico, quis realçar o sofrimento sentido por este. Assim, uma das grandes críticas é o excesso de violência demonstrado no filme.
Neste aspecto não é um filme fácil, sobretudo para quem tem um estômago mais frágil ou é facilmente influenciável, devido ao extremo realismo dos efeitos especiais que nos conseguem transportar e crer na veracidade do que vemos. Mas mais importante do que dizer se é demasiado violento ou não, é tentar ver qual é o objectivo de tal demonstração e saber se esse sim é válido ou não.
Na minha visão, a violência, e neste caso acho que nem é bem a palavra adequada, tem por objectivo dar ao espectador a dimensão de todo o sofrimento, enquanto representante de todo o pecado do mundo e fardo que Cristo se propõe a suportar. E nesse sentido todo o pingo de violência tem sentido. Como é dito no filme: poderá alguém suportar o fardo de todo o pecado do mundo?
Tem também o efeito de nos fazer pensar e ver como a violência pode assumir proporções inclusive indesejadas devido ao efeito das massas. Quando uma grande mole se reúne, a mínima faísca pode originar consequências imprevisíveis.
Gostei muito de certos pormenores do tratamento das personagens, nomeadamente a personagem de Pilatos que é chamado a tomar uma decisão sobre um conflito que sabe não ter nada a ver com justiça e cuja decisão, seja ela qual for, implica derramamento de sangue. É a imagem do estadista perante uma escolha de Salomão e cuja a única saída é optar pelo mal menor, sem deixar de sentir que lhe foi armado um cerco nesse sentido, mas igualmente sem outras opções de saída. Daí o seu famoso lavar de mãos.
Aliás todas as personagens em termos de interpretação estão muito bem construídas e representadas e a escolha de actores desconhecidos do grande público revelou-se uma opção acertada. Provavelmente a corrida aos Óscares do próximo ano terá vários destes actores em competição.

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