terça-feira, junho 27, 2006

Vinte e Zinco, M. Couto

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- Vinte e cinco é para vocês que vivem nos bairros de cimento. Para nós, negros pobres que vivemos na madeira e zinco, o nosso dia ainda está por vir.
- Afinal, onde a noite mais escurece é em volta do pirilampo. S
- Forte, ser forte que o fracos não gozam as História.
- … você não manda, você só dá ordens. Entendeu?
- Só matas os que eles deixam morrer.
- … os vivos têm sombras que se desenham no tempo.
- Cada ser tem duas margens, uma em cada lado do tempo.
- Dois irmãos são como duas abóboras: podem chocar mas nunca quebram.
- Deus criou a bebida, o homem fez o copo.
- Deus fez a árvore para que o homem não sentisse medo do tempo.
- Triste é escolher entre o mau e o pior.
- E dá azar avançar directo num assunto. O besouro, antes de entrar, dá duas voltas à toca.
- Não diga isso, que as palavras chamam as sucedências.
- O que dá estranheza na guerra é que ela não nos sai da memória, de tal modo que dela não recordamos exactamente nada.
- Quem não tem parentesco com a vida não chega nunca a morrer devidamente.
- A guerra é vaidosa: se ostenta mesmo nos lugares onde se diz ser a exclusiva moradia da paz.
- Não era defeito de visão mas falta de outras luzes que nos desvendam para outras vidas.
- A exibição da fragilidade é a defesa do fraco.
- O que importa não é passear de noite mas deixar a noite passear-se em nós.
- Não são os brancos que são gente sozinha. Sua cultura é que é muito solitária.
Que a bala do corpo se retire
Num disparo ao avesso se desvire
E o sangue aberto se arrependa
E retorne ao leito onde escorreu
Que, enfim, a espingarda seja morta
E se escreva na campa deste tempo:
- aqui jaz a bala
- sentenciada por mandato
- da vida contra o homem.

sexta-feira, junho 23, 2006

Dicionário

elanguescer - do Lat. elanguescere; v. int., tornar-se lânguido; enfraquecer pouco a pouco; debilitar-se lentamente.

cilício - do Lat. ciliciu < kilíkion; s. m., ant., pano grosseiro de pele de cabra com que se cobriam os soldados e marinheiros; túnica ou cinto largo de crina ou lã áspera, por vezes provido de puas, que se trazia sobre a pele por mortificação; fig., tormento, martírio, sacrifício voluntário.

sinestesia - do Gr. sýn, juntamente + aísthesis, sensação; s. f., relação subjectiva que se estabelece espontaneamente entre uma percepção e outra que pertence ao domínio de um sentido diferente (por exemplo, um perfume que invoca uma cor ou um som que invoca uma imagem).

lupanar - do Lat. lupanar; s. m., casa de prostituição; bordel; alcoice; prostíbulo.

sambenito - do Cast. sambenito; s. m., hábito ou balandrau, em forma de saco, que se enfiava pela cabeça dos condenados, quando eram levados para os autos-de-fé.

quinta-feira, junho 22, 2006

Lenin Syriana Oil

Lenin Oil, de Pedro Rosa Mendes, é uma enigmática história que envolve exploração petrolífera em África e as lutas de poder inerentes à conquista da extracção do mesmo. Tem um enredo complexo, por vezes desconexo, com nomes omitidos em que as personagens são difusas. Ao ler este livro é impossível não estabelecer um paralelo com Syriana. Porque o tema é o mesmo: o impacto da exploração petrolífera nos países e comunidades na qual se efectua e os interesses e guerras veladas de poder que desperta. Apenas o cenário não é exactamente o mesmo.
Este paralelismo livro/filme recorda-me igualmente Heart of Darkness e Apocalipse Now, livro de Josephe Conrad e filme de F. F. Copolla, respectivamente. Há dois cenários diferentes em que os paradigmas do indivíduo, que se crê moralmente superior, se vê confrontado com o outro e colocado em situações limite que o levam a questionar as suas crenças e dogmas ao mais profundo nível.

quarta-feira, junho 21, 2006

Lenin Oil, P. R. Mendes

- Quem são os nossos melhores amigos de hoje? São os comunistas de ontem . eles não mudaram, nós é que demorámos a entender-nos com eles.
- … os rios do paraíso existem mesmo. Correm, petrificados, tão fundo quanto os nossos sonhos conseguem perfurar. E são negros.
- Os vidros fumados pertencem ao mesmo vício quer os óculos de sol: o luxo da invisibilidade.
- Nem reis nem papas admitiram que nem todos os sítios pertencem a Cristo. E que há sítios, de tão maus, Cristo, na sua humildade, não quis abençoar.
- A realidade é que toda a perfeição do mundo cabe dentro de uma latrina. É altura de reconhecer a merda – com o devido respeito – em que estamos metidos. É muito grande.
- O enredo não muda. Só os acontecidos.
- … o petróleo não mova montanhas mas convoca os profetas.
- Ali estavam, sentados, a esperança, o interesse, a força e o rancor. (A razão raramente assiste. )
- Quando estamos no silêncio de uma cela, os selos que chegam trazem um cheiro de liberdade e de coisas queridas. Cheiram a família. Cheiram a… ilusão.
- A filantropia consiste em não aplicar a força, que é uma questão política, mas tão-só em disponibilizar os meios, que é uma questão de comércio.
- Ser ninguém era melhor do que não ser ninguém.
- … a identidade é uma marginalidade.
- Sendo amorais, não podem ser acusadas de imorais. Não são boas nem más. São.
- Todos morremos de morte, mas a morte não se basta em ser a sua própria causa.

quarta-feira, junho 07, 2006

Syriana

O seu argumento é complexo e nele parece soçobrar várias pontas soltas, mas que apenas reflecte a complexidade da teia de influências e interesses que rodeiam o poder e o desejo de o atingir. Fica a noção de que tudo é “comprável”, tudo é negociável, incluindo as vidas humanas e somente o seu valor de aquisição difere. Há quem valha mais e há quem valha menos que nada.
Há quem decide a estratégia, quem nomeie os peões a perecer e quem dê poder provisório a outrem, mas este jogador é muito pouco visível. A sua face não o demonstra, mas o alcance dos seus tentáculos é longo.
Um filme a não perder.

terça-feira, junho 06, 2006

Your Famous Last Words Will Be:

"Goodbye. I am leaving because I am bored."

Dicionário

Matungo - adj. e s. m., Brasil, designativo do cavalo velho e inútil, sem préstimo.

Chimango - s. m., Brasil, espécie de gavião; nome dado aos membros do Partido Liberal que se opunha à restauração de Pedro I; alcunha dada aos adeptos do Partido Republicano.

Ferrabrás - do Fr. Fier-à-Bras, n. pr.; adj. e s. m., valentão; fanfarrão.

Estorcegão - s. m., torcedela violenta e rápida; grande beliscão.

Silente - do Lat. silente; adj. 2 gén., silencioso.

sexta-feira, junho 02, 2006

2 em 1

Bounce / Sliding doors
Um Acaso Con Sentido / Instantes Decisivos

Estes dois filmes não serão porventura extraordinários, mas agradam-me bastante. Não por serem interpretados pela mesma actriz, Gwyneth Paltrow, mas pela sua temática: somos o que somos pelo que a vida nos proporciona e os “ses” são apenas “ses”. E esta crença faz parte da minha filosofia de vida.
Em Bounce uma das personagens diz a certo momento algo como: “O Bud existe na tua vida porque o x já não existe. Isso não o torna culpado da sua morte”. A nossa vida desenrola-se com o que existe, não com o que não existe. Isto não quer dizer que eu não possa sonhar ou aspirar com o que não existe e batalhar por isso. Mas não adianta martirizarmo-nos com esse “se” e deixarmo-nos consumir por uma possibilidade que poderá não vir a existir e que nos impede de olhar ao nosso redor.
Costumo por vezes dizer que não adianta conjecturar com bases em “ses” como se fossem realidades, quando não passam de possibilidades. Porque se “se”, eu não estaria aqui neste momento. É o que acontece em Sliding Doors que nos dá duas realidades paralelas baseadas em dois ses: se apanhar o metro a tempo ou se não. Claro que no filme prevalece uma das opções, mas esta vai incorporar o outro se, numa espécie de prémio de consolação. Infelizmente, não tenho essa visão digamos tão positivista. É claro que a vida dá segundas oportunidades, mas nem sempre e não a toda a gente.
Esta é a vida que temos e ela mais do que ninguém sabe todas as regras de uma boa ironia. As nossas acções têm sempre consequências, maiores ou menores ou ainda a curto, médio e logo prazo, que nos apanham desprevenidas e mudam inevitavelmente o rumo do nosso futuro. Disso não tenho dúvidas.

Uma vida a 2

Em que momento de numa relação as pequenas coisas que nos atraem no outro se tornam as mais insuportáveis? Em que momento(s) o quotidiano vai minando um amor ou uma paixão. Como o clima que inexoravelmente vai corroendo um edifício, roubando a vivacidade cromática de uma casa, forçando fracturas que cada vez mais se acentuam se não forem reparadas a tempo. Em que momento a atracção passa a indiferença e daí a uma repugnância. Como dois pólos que passam a repelir-se. será possível reverter a atracção? Será possível numa vida a dois ultrapassar sempre os obstáculos que se apresentam? Qual será o segredo ou a fórmula para manter uma certa frescura, uma esperança quando parece já não haver volta a dar.