Em Junho, perfazem sete anos sobre a conclusão do meu curso. Às vezes parece que foi ontem, mas a verdade é que já foi no século passado. Foram quatro anos em que aprendi muito, não tudo, mas muito.
A verdade é que quando acabei o meu curso (Línguas e Literaturas Modernas – Português / Inglês) sabia muito pouco sobre a vida quotidiana e as suas necessidades. Senti dificuldades por não ter aprendido coisas bastantes práticas necessárias ao mundo do trabalho. Aprendi-as, muitas vezes pelo erro, mas, como todas as outras, também é uma forma de aprendizagem.
Na altura, a minha opção foi não dar aulas - o caminho natural para quem faz este curso. Não me sentia preparada emocionalmente para enfrentar turmas. Não tinha experiência nem segurança que me fizessem pensar que poderia ensinar algo aos meus possíveis alunos. Poderiam ensinar-lhes matéria, mas não lhes poderia ensinar mais nada, porque não tinha vivenciado uma série de coisas. E como sempre acreditei que ser professor é mais do que debitar matéria, enveredei por outro caminho.
Por vezes perguntam-me porque é que não fui dar aulas e para o que serve o meu curso no meu actual trabalho, que uso é que faço dele? O mais engraçado é que lhe dou mais uso do que as pessoas à primeira vista pensam. O facto de escrever português de um modo minimamente correcto ajuda-me a cada momento. É-me por vezes conferida a escrita de documentos e mesmo que não seja eu a escreve-los, sou frequentemente solicitada para fazer revisões ou tirar dúvidas.
Mas, mais do que isso, a literatura ensinou-me a conhecer pessoas. Digo muitas vezes que não fiz psicologia, mas que quase a podia exercer. Tentar perceber os meandros das personagens ensinou-me a observar as pessoas e a tentar percebe-las não somente pelas suas palavras, mas sobretudo pelos seus gestos e acções. E os gestos e acções dizem por vezes mais do que as palavras.
Não compreendo tudo sobre as pessoas com quem convivo, mas consigo percebe-las suficientemente para respeitar a sua postura. Assim, consigo manter uma relação afável com quem me rodeia. Posso gostar mais desta ou outra pessoa, mas não me dou mal com ninguém. Se necessário, afasto-me. Creio que sou uma boa ouvinte, tento perceber várias perspectivas de uma mesma situação, talvez por isso os amigos gostem de saber a minha opinião. Mesmo que não tenha uma inteiramente formada consigo alerta-los para o facto de que a perspectiva deles não é a única e que nem a deles nem a dos outros é errada. São apenas diferentes. Acho até que consigo ser demasiado racional em muitos aspectos.
Sobretudo, o que a faculdade me deu foi um alargamento dos meus horizontes. Ensinou-me a pensar e instigou-me a querer ir mais além do que por vezes é pedido. Aprendi que é sempre bom aprender. Tento sempre aprender algo.
Pode não parecer, mas sinto-me uma pessoa mais rica.
3 comentários:
Substitui "escreve-los" por "escrevê-los" e "alerta-los" por "alertá-los"!
... e "percebe-las" por "percebê-las"...
"Senti dificuldades por não ter aprendido coisas bastantes práticas necessárias ao mundo do trabalho."
Não se ensinaram nesses tempos e continua assim! Digo-to eu, que sei exactamente o que é esse curso no presente. Pelo menos na minha universidade é assim.INfelizmente. Mudámos de século mas as ideias continuam as mesmas.
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