A chegada do barco holandês à nossa costa pertencente à organização “Women on Waves” provocou um grande tumulto no nosso país, pelo menos a nível político e mediático. Se a proibição do governo português para que este entrasse em águas territoriais nacionais levantou muita fleuma, esta parece-me, no entanto, correcta. Digo isto porque, pelo menos de acordo com a actual lei vigente, é uma decisão coerente.
Mas é claro, que o mais importante não é o barco em si. O mais importante é a lei propriamente dita e se esta será a mais adequada. É complicado dizer. Não consigo dizer que sou a favor da liberalização aborto, mas também não consigo deixar de pensar que em certas talvez seja a melhor solução. Talvez não para o bebé, mas… Aliás não consigo deixar de pensar em qualquer das situações (sim/não) sem um grande “mas” a acompanhar.
No passado referendo, confesso que o meu voto foi “não”. Podem até criticar-me, mas foi o que achava na altura e na verdade continuo a pensar. Não me acho com direito a tirar a vida de ninguém, porque é de uma vida que se trata. Podem pensar então que eu seria incapaz de fazer um aborto. Mas a verdade é que, em determinadas circunstâncias, seria. Podem chamar-me hipócrita, porque talvez o seja, mas a verdade é que por vezes aquilo que pensamos e idealizamos não se coaduna muito com a realidade em que vivemos. E a realidade é por vezes muito cruel. E, actualmente, se se realizar um novo referendo, é provável que a minha resposta seja “sim”, apesar do peso que esse sim me possa trazer.
Claro que o ideal é que nunca alguma mulher se tivesse de ver confrontada com uma situação de aborto. Num mundo ideal não haveria mal formações de fetos, não haveria violações, não haveria pessoas inconscientes e inconsequentes relativamente à sua sexualidade, não haveria miséria, não haveria país que não amassem os seus filhos, não haveria… Mas não vivemos num mundo ideal e temos de nos adaptar a ele.
Talvez a liberalização do aborto não seja a melhor das soluções para o nosso mundo, mas se calhar… Não sei, realmente não sei…
1 comentário:
O argumento de que a proibição do aborto se destina a preservar a vida humana é manifestamente frágil. A vida humana nunca valeu muito, e quanto mais população existir, menos valerá. Tal como as máquinas fotográficas, as pessoas também são descartáveis!
E quantas vezes não se pensou "quem me dera que ... nunca tivesse nascido"? Por esse motivo, seria muito mais honesto, coerente e eficiente criar um mecanismo legal que impedisse a corja humana de procriar, submetendo-a a critérios de selecção rigorosos. Afinal, existem imensas pessoas cuja entrada neste mundo deveria ser "barrada". Eu sei porque sou um deles...
Pelo menos, seria muito mais directo que o subtil instrumento da mãe-natureza, que estabelece laços de aversão intangíveis entre a humanidade e os seus membros mais reles!
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